domingo, 2 de fevereiro de 2014

Trash thing

Serventia da arte: ser inútil.
            Precisava o homem primitivo de arte? Não, a ilusão criada por nossas mãos é um tanto recente. Aos menos informados, por arte entende-se a música, a literatura, a filosofia, os filmes (ou seja, qualquer coisa sem propósito) etc, etc. Provavelmente, o leitor está discordando da minha afirmação entre parêntis, procurando razões para se justificar, como é comum à nossa espécie, mas vou me explicar melhor.
            Imagine que você vive no passado, no qual não existem casas, nem países ou qualquer tipo de tecnologia. Recue bastante no tempo (ou pouco, dependendo do ponto de vista, pois o bastante vira pouco e vice-versa), feito isso, verá que lá não tem arte, exceto, talvez, por pinturas nas paredes, as quais não tinham por objetivo a inutilidade, podendo não ser consideradas arte por esse motivo. Por conseguinte, não há arte lá. Agora responda, isso atrapalha sua procriação?
            A resposta será não. Nós somos o acaso que, por ser acaso, gosta das coisas sem serventia. Nossos passatempos são baseados em nossas necessidades como animais: nos quais encontramos temas como o amor e o ódio ― essenciais para a perpetuação de nossa espécie em tempos idos (não só) ―, as lutas e os esportes ― ainda somos como aqueles seres esquecidos que caçavam animais, daí o motivo da afirmação de Cioran chamando o homem moderno de troglodita: “O troglodita, que tremia de espanto nas cavernas, treme ainda mais nos arranha céus!” ― o sexo, o motivo de nossa existência, o ritmo musical, o qual é mais difícil de entender, mas que me faz pensar no menino que prestava atenção nos sons para saber se havia perigo por perto, na recordação apagada da mãe falando, nos sons produzidos durante o coito, e essas coisas, mas não tenho certeza sobre este ponto.
            Mas é claro que não vale para músicas inferiores, às quais as pessoas gostam somente em prol do tema delas, que na maioria das vezes é trivial (amor, sexo, poder etc.). Nossa espécie procura em coisas inúteis o que lhes lembra a utilidade. Este é o motivo da existência de coisas inúteis.
Mas a arte não nos ajuda em nossa reprodução ou em nossa sobrevivência. É totalmente inútil. Entretanto, o homo sapiens também não tem utilidade.