Visconde
de Taunay, prolífico autor, tem em Inocência a obra pelos críticos
considerada como a melhor deste, a qual apresenta mescla entre termos
regionais e linguagem culta urbana. A obra pertence ao romantismo,
mais especificamente ao regionalismo romântico, pois é ambientada
em uma determinada região do Brasil, o Mato Grosso. Além disso, tem
narração em terceira pessoa e a história tem uma sequência
cronológica.
O
livro é publicado em um momento de final do romantismo, de transição
do romantismo para o realismo. Desse modo, a obra traz aspectos
românticos, o amor à primeira vista, por exemplo, mas também traz
aspectos realistas, como na descrição da natureza e costumes do
Mato Grosso.
Na
excelente narrativa, se tem o encontro entre o curador Cirino e o
mineiro Pereira, o que ocorre ao acaso, e, depois de muito falar o
mineiro, o curador é levado a ficar na casa de Pereira para curar a
filha do mesmo, Inocência.
No
entanto, o “doutor” acaba se apaixonando pela moça, que já
tinha casamento estabelecido pela palavra de seu pai. Aparece outro
personagem: o naturalista alemão Meyer (o qual dá um tom cômico à
narrativa), que se torna mais um hóspede. Este, desconhecendo as
normas de comportamento das famílias do sertão, elogia
constantemente a beleza de Inocência, o que faz com que Pereira se
preocupe com o alemão, deixando Cirino com mais liberdade para
encontrar Inocência.
Inocência,
que também ama o curador, pede que este vá até a casa de Cesário,
padrinho dela, pedir ajuda. Cirino vai até a casa dele, sendo o
pedido de ajuda aceito. Entretanto, depois de Inocência negar casar
com seu prometido, Manecão, este encontra Cirino e o mata. Meyer,
naturalista bem sucedido, expõe a Papilo
Innocentia no final da
narrativa, espécie de borboleta que ele encontrou e que tem por nome
uma homenagem a Inocência, a qual jazia morta.
Assim,
considera-se Inocência como o Romeu e Julieta sertanejo. Nisso, se
percebe um sentimentalismo exacerbado, como fica claro com o amor de
Cirino por Inocência e desta por ele. Também fica evidente que não
há toque entre os dois amantes, é um amor romântico,
espiritualizado ao extremo.
Em
relação à borboleta (a qual nos remete à Inocência) que Meyer
encontra, percebe-se uma metáfora muito inteligente, pois ela mostra
que o Brasil possui belezas próprias.
Ademais,
também se nota na história o nacionalismo e o realismo, pois Taunay
mistura o rigor do observador que percorreu os sertões com a
imaginação do escritor. Existe também uma oposição durante a
história, que se dá pelo machismo de Pereira, que quer prender sua
filha, com uma visão diferente por Cirino e Meyer. Além dessa,
temos outra oposição que se dá entre o mundo urbano e o rural. O
que se percebe é que o autor, de modo peculiar, não deixa nenhum
lado como superior ao outro.
A
obra é dividida em um epílogo e 30 capítulos, os quais não são
longos e proporcionam uma leitura instigante, na qual o leitor tem
sua curiosidade despertada. Cada capítulo é iniciado com uma ou
mais frases, as quais são de Shakespeare, Miguel de Cervantes, entre
muitos outros autores; elas introduzem o capítulo, criando um
sentido perfeito entre um e outro (frase e capítulo).
Como
exemplo, tem-se o capítulo II, chamado O Viajante, no qual uma das
frases introdutórias é: “Comigo, respondeu Sancho, meu primeiro
movimento é logo tal comichão de falar que não posso deixar de
desembuchar o que me vem à boca”, subsequentemente a isto, aparece
uma personagem que fala espontaneamente muitas coisas.
Além
disso, percebe-se um vocabulário extremamente rico, como fica
evidente logo no primeiro capítulo, em que elementos da natureza são
descritos, como o seguinte excerto deixa evidente: “o estípite
liso, pardacento, sem manchas mais que pontuadas estrias, sustenta
denso feixe de pecíolos longos e canulados […]”. Com isso,
nota-se que, no começo do livro, o autor consegue dar uma descrição
muito acurada do ambiente na qual a história se passa.
Inocência,
certamente, é uma obra que merece ser lida por toda sua riqueza e
peculiaridade.