sábado, 13 de dezembro de 2014

Resenha crítica de Inocência

Visconde de Taunay, prolífico autor, tem em Inocência a obra pelos críticos considerada como a melhor deste, a qual apresenta mescla entre termos regionais e linguagem culta urbana. A obra pertence ao romantismo, mais especificamente ao regionalismo romântico, pois é ambientada em uma determinada região do Brasil, o Mato Grosso. Além disso, tem narração em terceira pessoa e a história tem uma sequência cronológica.
O livro é publicado em um momento de final do romantismo, de transição do romantismo para o realismo. Desse modo, a obra traz aspectos românticos, o amor à primeira vista, por exemplo, mas também traz aspectos realistas, como na descrição da natureza e costumes do Mato Grosso.
Na excelente narrativa, se tem o encontro entre o curador Cirino e o mineiro Pereira, o que ocorre ao acaso, e, depois de muito falar o mineiro, o curador é levado a ficar na casa de Pereira para curar a filha do mesmo, Inocência.
No entanto, o “doutor” acaba se apaixonando pela moça, que já tinha casamento estabelecido pela palavra de seu pai. Aparece outro personagem: o naturalista alemão Meyer (o qual dá um tom cômico à narrativa), que se torna mais um hóspede. Este, desconhecendo as normas de comportamento das famílias do sertão, elogia constantemente a beleza de Inocência, o que faz com que Pereira se preocupe com o alemão, deixando Cirino com mais liberdade para encontrar Inocência.
Inocência, que também ama o curador, pede que este vá até a casa de Cesário, padrinho dela, pedir ajuda. Cirino vai até a casa dele, sendo o pedido de ajuda aceito. Entretanto, depois de Inocência negar casar com seu prometido, Manecão, este encontra Cirino e o mata. Meyer, naturalista bem sucedido, expõe a Papilo Innocentia no final da narrativa, espécie de borboleta que ele encontrou e que tem por nome uma homenagem a Inocência, a qual jazia morta.
Assim, considera-se Inocência como o Romeu e Julieta sertanejo. Nisso, se percebe um sentimentalismo exacerbado, como fica claro com o amor de Cirino por Inocência e desta por ele. Também fica evidente que não há toque entre os dois amantes, é um amor romântico, espiritualizado ao extremo.
Em relação à borboleta (a qual nos remete à Inocência) que Meyer encontra, percebe-se uma metáfora muito inteligente, pois ela mostra que o Brasil possui belezas próprias.
Ademais, também se nota na história o nacionalismo e o realismo, pois Taunay mistura o rigor do observador que percorreu os sertões com a imaginação do escritor. Existe também uma oposição durante a história, que se dá pelo machismo de Pereira, que quer prender sua filha, com uma visão diferente por Cirino e Meyer. Além dessa, temos outra oposição que se dá entre o mundo urbano e o rural. O que se percebe é que o autor, de modo peculiar, não deixa nenhum lado como superior ao outro.
A obra é dividida em um epílogo e 30 capítulos, os quais não são longos e proporcionam uma leitura instigante, na qual o leitor tem sua curiosidade despertada. Cada capítulo é iniciado com uma ou mais frases, as quais são de Shakespeare, Miguel de Cervantes, entre muitos outros autores; elas introduzem o capítulo, criando um sentido perfeito entre um e outro (frase e capítulo).
Como exemplo, tem-se o capítulo II, chamado O Viajante, no qual uma das frases introdutórias é: “Comigo, respondeu Sancho, meu primeiro movimento é logo tal comichão de falar que não posso deixar de desembuchar o que me vem à boca”, subsequentemente a isto, aparece uma personagem que fala espontaneamente muitas coisas.
Além disso, percebe-se um vocabulário extremamente rico, como fica evidente logo no primeiro capítulo, em que elementos da natureza são descritos, como o seguinte excerto deixa evidente: “o estípite liso, pardacento, sem manchas mais que pontuadas estrias, sustenta denso feixe de pecíolos longos e canulados […]”. Com isso, nota-se que, no começo do livro, o autor consegue dar uma descrição muito acurada do ambiente na qual a história se passa.

Inocência, certamente, é uma obra que merece ser lida por toda sua riqueza e peculiaridade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário