O presente trabalho tem como objetivo realizar a análise intrínseca do conto de Edgar Allan Poe, William Wilson.
Verificar-se-á, nas diversas nuances de sua constituição, como todo o enredo se constitui de um personagem complexo, o protagonista, e como este descobre ser o carrasco de si mesmo. Ele também será morto por ele mesmo, tal paradoxo constitui o clímax.
O enredo difere da estória, esta se inicia quando Wilson conhece seu homônimo na escola, aquela quando ele está prestes a morrer. A personagem principal, William Wilson, pode ser considerada
O enredo do conto William Wilson se inicia com este tendo uma página em branco na sua frente, na qual narrará suas intempéries. O enredo se inicia no desfecho do conto, pois o narrador afirma que a morte se aproxima.
A partir daí contará sobre sua escola e a descreverá, e narrará que foi durante esses cinco anos que passou na escola que conheceu seu homônimo.
A estória tem início quando um rapaz de dez anos conhece na escola alguém em tudo idêntico a si, exceto a voz, que a tem como um sussurro muito baixo. Este sempre dava conselhos para o narrador, que lhe davam ódio cordial e desprezo.
Após uma discussão entre eles, na última noite da escola, o narrador tenta pregar uma peça de mau gosto no seu rival, mas, para o fracasso do plano, o adormecido acorda, colocando-o em contemplação da fisionomia que era idêntica à sua, o que não notava em período de vigília dele.
Ele entra, depois de deixar a escola, em desregramentos. Durante uma orgia, um criado disse que alguém tinha pressa em falar com ele. Era alguém que falava baixo, o que permite dizer que era seu homônimo, que disse “William Wilson!” segurando se braço, causando espanto a ele, desaparecendo em seguida.
Em Oxford entregou-se à vontade ao luxo. Esbanjou na universidade. Começou a roubar vilmente no jogo de cartas. Os parasitas bajulavam-no.
Wilson ilude Glendinning deixando-o ganhar somas consideráveis para prendê-lo numa armadilha. Quando esta se armou para acontecer, no apartamento de Preston, tem o cuidado de convidar um grupo de pessoas.
Prolongaram a vigília e, tarde da noite, consegui fazer de Glendinning seu único adversário. O jogo era o écarté. O Parvenu, induzido a beber, distribuía as cartas nervosamente. Já era devedor de uma grande soma, e fez o que o narrador já havia previsto: propôs que dobrassem a parada. Wilson dissimulou
relutância e só depois de recusas repetidas acedeu. Em menos de uma hora a vítima quadruplicou a dívida.
Wilson percebia, atônito, a palidez terrível no rosto de Glendinning. Quando Wilson ia insistir para interromper o jogo para salvaguardar seu caráter aos olhos dos camaradas, mas uma exclamação de Glendinning e algumas palavras ditas do lado de Wilson fizeram com que este compreendesse que o levara à ruína.
A tristeza pairava e olhares de desprezo eram dirigidos, por parte de alguns, para Wilson. Nesse contexto, o homônimo entra (ambos usando uma capa), e desmascara Wilson, revela a trapaça. Revistaram-no e acharam as cartas escondidas que o tornavam culpado.
O anfitrião fez com que Wilson saísse do apartamento. Ele colocou a capa do homônimo, que estava no chão e Preston lhe dava, sem que ninguém prestasse atenção, sobre a sua. Ele fugiu, mas o seu carrasco lhe perseguiu em todos os lugares, se interpondo entre sua má índole.
Abandonou-se ao vinho.
Em Roma, durante o carnaval, estava num baile à fantasia, no palácio do Duque Di Broglio, de Nápoles. Não estava sóbrio. Ele procurava a esposa do velho Di Broglio, que havia lhe revelado a fantasia com que iria. O homônimo, quando Wilson se apressava para alcançá-la, tocou lhe tocou no ombro e lhe sussurrou no ouvido.
Em cólera, o narrador o pega e o leva para uma pequena antecâmara vizinha, matando-o rapidamente. Um vasto espelho apareceu e, enquanto se dirigia para ele, viu o próprio rosto pálido e manchado de sangue. Mas não era ele, era seu adversário. Wilson concluiu que seu rival era idêntico a ele.
O rival diz para ele que o matou mas também se matou, que assassinou a si mesmo.
Poe nos coloca, antes do conto chamado William Wilson, uma citação: “Que dirá ela? Que dirá a terrível consciência, aquele espectro no meu caminho?” (Chamberlain – Pharronida). A partir disso deduz-se, naturalmente, após a leitura do conto, que não existem dois personagens chamados William Wilson, mas que o que tinha voz baixa era a consciência da personagem. O espectro no caminho não é mais do que o Wilson carrasco do narrador.
O narrador é o único que percebe o seu rival, as outras personagens em momento algum se referem ao outro Wilson. Também questiona-se se o narrador sabe exatamente o que está narrando, o que fica claro no seguinte trecho: “Encontrava agora alguns motivos para duvidar do testemunho de meus sentidos e raramente me lembrava da aventura sem admirar-me de quão longe pode ir a credulidade humana, e sem sorrir da prodigiosa força de imaginação que havia herdado de minha família.”(POE, P.97). Se ele havia herdado uma
imaginação grande, logo é natural que tenha imaginado que outro como ele existira, mas que na verdade não passava de sua própria consciência.
Outro trecho também é revelador: “Na verdade não terei vivido num sonho?”(POE, p.86).
Portanto, o que o texto nos leva a crer, é que Wilson vê outrem igual a si, exceto pela voz, mas que é ele próprio. É como se houvesse o Wilson desregrado, o qual narra o conto, e o Wilson com boa conduta, a consciência.
Outro fato relevante é a voz do outro Wilson, se ele tem uma voz fraca, então o que predomina é o oposto à consciência. E se seus valores morais eram suprimidos por sua natureza atrelada aos vícios, logo é natural que Wilson veja o seu rival como conselheiro, moralista, como seu carrasco.
O desfecho também é revelador, na fala do “rival”: “ ...vê em minha morte, vê por esta imagem, que é a tua, como assassinaste a ti mesmo.”(POE, p.107). Entretanto, mesmo nesse momento, o narrador não percebe que é ele mesmo, afirma que “teria sido possível acreditar que eu próprio falava...”, embora entreveja a verdade, só entreve, não supera a loucura ou imaginação fértil que lhe engana.
William Wilson é a personagem principal, sem as suas ações seria impossível o desenvolvimento e a constituição do conflito dramático, salientadamente pelo fato dele lutar contra uma parte de si mesmo durante a estória. Ele se caracteriza por ações previsíveis, desde o início do conto já se mostra como alguém com tendências más, portanto o que se espera desse personagem é que se entregue a vícios, mate, roube. Ele também se caracteriza com um temperamento imaginativo e facilmente impressionável, portanto é de se esperar que ele crie fantasias atreladas à sua vida, que crie outro Wilson à sua imagem e semelhança, mas que seja sua própria consciência. Se ele é facilmente impressionável, é natural que não perceba, nem mesmo no fim de sua vida, que sua consciência lhe diz que matara a si mesmo. Na escola, a consciência de Wilson competia com ele nos estudos,
O diretor Bransby é uma personagem redonda, é admirado pelo narrador, é um padre e um diretor, tem um rosto benigno e modesto, roupa bem escovada, mas surpreende quando é descrito como alguém muito severo, com roupa manchada.
Glendinning pode ser considerado como plana com tendência a redonda, apesar de sua inteligência baixa, o que permite que seja enganado, surpreende o leitor quando demonstra que está arruinado.
O foco narrativo, seguindo a classificação de Friedman (1995), é chamado de narrador protagonista. O conto é narrado em primeira pessoa, limitando-se ao registro dos pensamentos, percepções e sentimentos da personagem. Não poderia ser onisciente, pois se questiona se não teria vivido num sonho, logo duvida, portanto não sabe tudo; também não poderia ser “eu” como
testemunha porque não narra numa posição secundária. Ele é o protagonista da história narrada.
A intriga do texto pode ser definida como moralidade x imoralidade. Se Wilson não tivesse uma consciência que lhe prejudicasse, não haveria morte, não haveria conflito.
O clímax se dá quando Wilson mata, com a energia e o poder da multidão, seu verdugo, é quando o conflito atinge seu grau máximo.
O ato do narrador de ignorar os conselhos é o que desencadeia a ação.
Personagem: William Wilson que fala baixo: parece onipotente e onipresente aos olhos do narrador parasitas: tipo Glendinning: rico, de inteligência fraca; por isto é plana, não surpreende desconfiando da armadilha Preston: íntimo de Wilson e de Glendinning
Paradoxo: Existem dois William Wilson, mas são o mesmo. Tornou-se sóbrio.
Referência: Poe, E. A. (1965) “William Wilson”, Ficção Completa, Poesia & Ensaios. Trad.
Oscar Mendes. Rio de Janeiro, Aguilar, p. 258-274
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
Resenha crítica do texto Foco Narrativo, Tempo e Espaço em A Paixão Segundo G.H.
Oliveira inicia seu texto tratando do enredo de A Paixão Segundo G.H., em que G.H., a escultora, recapitula para si própria os acontecimentos do dia anterior ao do começo da narrativa, no momento em que decide arrumar o seu apartamento. A arrumação começa pelo quarto de Janair, o qual, para surpresa de G.H., está limpo; no entanto, surge uma barata do guarda-roupa, que é amassada pela personagem, mas acaba sendo comida por ela. Oliveira resume esses acontecimentos de forma clara e bem organizada.
Além de resumir o enredo, Oliveira se preocupa em pensar como as personagens de Clarice Lispector são construídas, mostrando que quase todas as personagens da autora são “tipos, abstrações, porta vozes para a discussão metafísica, antes que as personagens complexas, realistas, da ficção do século XIX”. Oliveira também alude a G.H., que fala de si como alguém que não tivesse existência real, o que é embasado por citações da obra: “[...] uma vida inexistente me possuía toda e me ocupava como uma invenção”. Assim, o texto nos mostra que a personagem é definida mais pela ausência, pelo que não é; também nos mostra que G.H. julga que só é possível um verdadeiro contato com a realidade quando não se tem interpretação, fórmulas ou tentativas de explição, novamente partindo de citações da obra.
A autora discorre que G.H. tenta dar a ilusão de uma multiplicidade de pontos de vista, pois só uma visão múltipla e variável poderia conduzir a uma visão válida da realidade para a personagem. Assim, segundo a autora, a narrativa “tem de conciliar o relato na primeira pessoa, responsável pela impressão de unificação, com a ilusão do ponto de vista múltiplo”. Se referindo a G.H., Oliveira nota que em algumas vezes, o “eu” se transforma em “ela”, exemplificando com os seguinte trecho: “levantei-me enfim da mesa do café – essa mulher”.
O texto também trata do problema do tempo e A Paixão Segundo G.H., o qual“expande-se e contrai-se como uma sanfona, dependendo dos efeitos estéticos visados pela estrutura narrativa”. No entanto, o discurso continua, enquanto, no universo ficcional, o tempo parece estacar, ou seja, nada acontece quando G.H. fica entre o pé da cama e a porta do armário diante da barata. Desse modo, a mente de G.H. volta ao passado (tanto seu quanto do homem e do planeta), mas também volta-se para o futuro, para o retorno do cotidiano, quando sua epifania já se fora.
Em relação ao espaço, a autora afirma que é evidente uma localização ambivalente, visto que “o apartamento de G.H. está, ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro, cidade de seiscentos mil mendigos, em todos os lugares e em parte alguma, ao lado da caverna e em parte alguma, ao lado da caverna dos trogloditas, como na selva de pedra carioca”. Oliveira discorre que o monólogo desenvolvido por G.H. se dá não tanto no apartamento, mas nos escombros da civilização: “o edifício que ela sente prestes a desabar é todo o mundo ocidental, ameaçado de um holocausto nuclear”.
Em suma, o texto de Oliveira apresenta uma análise contundente, destacando aspectos importantes da obra, como o fato da barata ser escolhida como metáfora por seu um dos “insetos fósseis alados” mais primitivos, além de tratar com objetividade e citando trechos da obra para tratar de foco narrativo, tempo e espaço.
Além de resumir o enredo, Oliveira se preocupa em pensar como as personagens de Clarice Lispector são construídas, mostrando que quase todas as personagens da autora são “tipos, abstrações, porta vozes para a discussão metafísica, antes que as personagens complexas, realistas, da ficção do século XIX”. Oliveira também alude a G.H., que fala de si como alguém que não tivesse existência real, o que é embasado por citações da obra: “[...] uma vida inexistente me possuía toda e me ocupava como uma invenção”. Assim, o texto nos mostra que a personagem é definida mais pela ausência, pelo que não é; também nos mostra que G.H. julga que só é possível um verdadeiro contato com a realidade quando não se tem interpretação, fórmulas ou tentativas de explição, novamente partindo de citações da obra.
A autora discorre que G.H. tenta dar a ilusão de uma multiplicidade de pontos de vista, pois só uma visão múltipla e variável poderia conduzir a uma visão válida da realidade para a personagem. Assim, segundo a autora, a narrativa “tem de conciliar o relato na primeira pessoa, responsável pela impressão de unificação, com a ilusão do ponto de vista múltiplo”. Se referindo a G.H., Oliveira nota que em algumas vezes, o “eu” se transforma em “ela”, exemplificando com os seguinte trecho: “levantei-me enfim da mesa do café – essa mulher”.
O texto também trata do problema do tempo e A Paixão Segundo G.H., o qual“expande-se e contrai-se como uma sanfona, dependendo dos efeitos estéticos visados pela estrutura narrativa”. No entanto, o discurso continua, enquanto, no universo ficcional, o tempo parece estacar, ou seja, nada acontece quando G.H. fica entre o pé da cama e a porta do armário diante da barata. Desse modo, a mente de G.H. volta ao passado (tanto seu quanto do homem e do planeta), mas também volta-se para o futuro, para o retorno do cotidiano, quando sua epifania já se fora.
Em relação ao espaço, a autora afirma que é evidente uma localização ambivalente, visto que “o apartamento de G.H. está, ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro, cidade de seiscentos mil mendigos, em todos os lugares e em parte alguma, ao lado da caverna e em parte alguma, ao lado da caverna dos trogloditas, como na selva de pedra carioca”. Oliveira discorre que o monólogo desenvolvido por G.H. se dá não tanto no apartamento, mas nos escombros da civilização: “o edifício que ela sente prestes a desabar é todo o mundo ocidental, ameaçado de um holocausto nuclear”.
Em suma, o texto de Oliveira apresenta uma análise contundente, destacando aspectos importantes da obra, como o fato da barata ser escolhida como metáfora por seu um dos “insetos fósseis alados” mais primitivos, além de tratar com objetividade e citando trechos da obra para tratar de foco narrativo, tempo e espaço.
terça-feira, 15 de agosto de 2017
Estes são os dias
Estes são os dias, meu amor. Estes são os dias. Nas taças tomamos nosso vinho e pensamos no futuro. Vivemos a vida que queremos e lutamos contra os tsunamis. Vencemos a feia maré, conquistamos nosso lugar.
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