quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Resenha crítica do texto Foco Narrativo, Tempo e Espaço em A Paixão Segundo G.H.

Oliveira inicia seu texto tratando do enredo de A Paixão Segundo G.H., em que G.H., a escultora, recapitula para si própria os acontecimentos do dia anterior ao do começo da narrativa, no momento em que decide arrumar o seu apartamento. A arrumação começa pelo quarto de Janair, o qual, para surpresa de G.H., está limpo; no entanto, surge uma barata do guarda-roupa, que é amassada pela personagem, mas acaba sendo comida por ela. Oliveira resume esses acontecimentos de forma clara e bem organizada.
Além de resumir o enredo, Oliveira se preocupa em pensar como as personagens de Clarice Lispector são construídas, mostrando que quase todas as personagens da autora são “tipos, abstrações, porta vozes para a discussão metafísica, antes que as personagens complexas, realistas, da ficção do século XIX”. Oliveira também alude a G.H., que fala de si como alguém que não tivesse existência real, o que é embasado por citações da obra: “[...] uma vida inexistente me possuía toda e me ocupava como uma invenção”. Assim, o texto nos mostra que a personagem é definida mais pela ausência, pelo que não é; também nos mostra que G.H. julga que só é possível um verdadeiro contato com a realidade quando não se tem interpretação, fórmulas ou tentativas de explição, novamente partindo de citações da obra.
A autora discorre que G.H. tenta dar a ilusão de uma multiplicidade de pontos de vista, pois só uma visão múltipla e variável poderia conduzir a uma visão válida da realidade para a personagem. Assim, segundo a autora, a narrativa “tem de conciliar o relato na primeira pessoa, responsável pela impressão de unificação, com a ilusão do ponto de vista múltiplo”. Se referindo a G.H., Oliveira nota que em algumas vezes, o “eu” se transforma em “ela”, exemplificando com os seguinte trecho: “levantei-me enfim da mesa do café – essa mulher”.
O texto também trata do problema do tempo e A Paixão Segundo G.H., o qual“expande-se e contrai-se como uma sanfona, dependendo dos efeitos estéticos visados pela estrutura narrativa”. No entanto, o discurso continua, enquanto, no universo ficcional, o tempo parece estacar, ou seja, nada acontece quando G.H. fica entre o pé da cama e a porta do armário diante da barata. Desse modo, a mente de G.H. volta ao passado (tanto seu quanto do homem e do planeta), mas também volta-se para o futuro, para o retorno do cotidiano, quando sua epifania já se fora.
Em relação ao espaço, a autora afirma que é evidente uma localização ambivalente, visto que “o apartamento de G.H. está, ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro, cidade de seiscentos mil mendigos, em todos os lugares e em parte alguma, ao lado da caverna e em parte alguma, ao lado da caverna dos trogloditas, como na selva de pedra carioca”. Oliveira discorre que o monólogo desenvolvido por G.H. se dá não tanto no apartamento, mas nos escombros da civilização: “o edifício que ela sente prestes a desabar é todo o mundo ocidental, ameaçado de um holocausto nuclear”.
Em suma, o texto de Oliveira apresenta uma análise contundente, destacando aspectos importantes da obra, como o fato da barata ser escolhida como metáfora por seu um dos “insetos fósseis alados” mais primitivos, além de tratar com objetividade e citando trechos da obra para tratar de foco narrativo, tempo e espaço.

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