quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Parte 5

Eu ainda me pergunto o que eu quero. Qual é o motivo de eu continuar existindo? Por que não escolhi o fim? E, por outro lado, por que o escolheria?

Talvez a resposta esteja nessa força torta, nessa vontade de potência distorcida que o processo civilizatório moldou em nós. Essa mesma força que vejo naquele rapaz, em sua inquietação muda. Ele é um reflexo fragmentado, mas reconhecível. E eu? Eu sou a quebra completa. A peça que não se encaixa.

Resumindo: sou a coisa que não deveria ser. Um erro, um acidente que persiste. E, ao mesmo tempo, não sou apenas isso. Sou mais torto do que ele, mais longe daquilo que chamam de natural. Carrego uma consciência que pesa demais, uma lucidez que nunca pedi e que me torna uma aberração.

Sou totalmente absurdo.

No entanto, é essa própria contradição que me prende aqui. Como se eu fosse um nó impossível de desatar. Existe um prazer estranho em observar, em destrinchar o caos e tentar encontrar algum padrão, mesmo sabendo que isso talvez seja inútil. O rapaz, com sua mediocridade discreta, me fascina porque ele é um pedaço de algo que eu perdi. Ou que talvez nunca tive.

E então, a pergunta retorna: qual é o propósito de tudo isso? Mas talvez a pergunta mais honesta seja: importa?

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