quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Eulália

Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
Lullaby
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
Cantava Eulália. Eulália, dos olhos verdes e cabelos rosados. Aquela que se esquivaria da nossa presença, aquela que viajaria espaços inconcebíveis em um segundo. Aquela que conhecia os deuses não mortos. Aquela que falava a língua dos espíritos. Ela cantava
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
Lullaby
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
E de novo, lembrava qualquer cena adormecida em sua mente, a cena de um assassinato terrível, cenas que se repetiriam mais tarde. Mas por quê? Por quê tinha que ser assim? Mas era, e isso era imutável. Agora, cantaria mais um pouco enquanto avançava em direção a uma cama
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
Lullaby
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
A garota loura dormindo não acordava. Era algo bem improvável que não acordasse com aquela canção perturbadora na calada da noite. Portanto, não deveria estar em seu estado normal. Eulália sabia, estava sonhando. Era um poder de Eulália, a vampira de setecentos anos de idade. Sua mãe a ensinara, e antes disso a mãe dela ensinara sua mãe, e antes disso sua vó ensinara sua mãe e assim por diante. Produzir sonhos, assim como viajar fora do corpo. Mas a vampira não estava fora do corpo. A vampira parara de cantar, olhava, agora, para a doce Lana.

Lana era linda, lábios finos, olhos proeminentes que mesmo fechados eram bonitos, cabelo louro, muito liso, nariz fino. Era uma pequena princesa. Eulália sabia, e a desejava. Então ela fez, dois furos criou em seu delicado pescoço. Estava feito. Mas como foi gostosa aquela mordida! Como estava gostoso aquele sangue quente!

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

domingo, 11 de setembro de 2016

5

Hello! I'm trapped in your trick. Oh darkness, my old friend, how are you? I'm busy at the moment. Drunk too much. Sex is out of question. Bang bang. My name is another, I live in a pool. I want to be the dead. I'm a vampire. What did you say?

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Ask

Death, common death. Hope, in this night. Tonight we won’t get another chance. Centuries are wasteful. The skies will be burned, but our seeds will reborn, everything we have created. We will fight again, in other bodies. We will never come down. We will disagree, oppose, all of this. We don’t agree, we never agree, but there’s no scape. I don’t trust the false words the bible says. I will recover and get above someday. I will revenge. Things are undone. I wouldn’t ask for it. I’m revolted. I wouldn’t ask to be reborn. I wouldn’t ask to have doubts. I will revenge. When the spirit comes to earth, when the soul never dies. When the spirit denies to die, when I deny to exist. I will ask and not find the answer. I will ask for your gold reason. Can you justify? The world isn’t in my hands. That blue glob.

sábado, 23 de julho de 2016

Eu, meu eu

Minha subjetividade está sendo drenada. Meu corpo, meu espírito, minha alma, meu eu. Aquilo está me drenando. Como vencer? A minha personalidade está se extinguindo; mesmo que você não goste de você; aliás, você nem existe. Você precisa parar de viver na caverna, Platão ficaria envergonhado. Você só sabe falar stricknês às vezes.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Referência espacial

Por que me colocou aqui? Me diga! Por que meio? Estou em um lugar bom? Onde estou? Você me colocou aqui, somente você. Em que lugar estou colocando o eu que não existe? Estou caminhando para lugar nenhum porque não existe ainda. Estou em lugar algum. Algum lugar. Traz e cola. Estou em algum lugar. Onde você me colocou?

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O número 3 em José Matias e Os Maias de Eça de Queirós

No conto José Matias, percebe-se uma insistência no número três. Coincidência? Pode ser, mas considerar-se-á a outra possibilidade.
Assim, como aponta Núnez, são três narradores, sendo um o narrador introdutor e mais dois secundários; são três carruagens que acompanham o caixão; são três anos que José Matias passa espreitando o apontador de Obras Públicas, três anos que vive encafuado no portal negro; o narrador cita por três vezes que durou dez anos um enlevo (do amor entre as personagens), o qual ocorre logo depois que Matias e Elisa se conhecem; são três parceiros ligados à carne, à sexualidade, que Elisa tem no decorrer do conto: o Miranda, o Nogueira e o apontador de Obras Públicas; também pode ser percebido um triângulo amoroso entre José Matias, o apontador de Obras Públicas (no final do conto, sendo no começo e no meio os outros dois, perfazendo a mesma função) e Elisa; são três textos citados pelo narrador: Defesa da Filosofia Hegeliana, As Origens do Utilitarismo e Ensaio dos Fenômenos Afetivos.
Será tudo mera coincidência? O número três tem seu simbolismo. Pode-se comparar este número com uma marca; este é um elemento somente do nosso tempo recente, enquanto o homem sempre soube o que é o número três, mesmo sem ter uma linguagem que pudesse descrevê-lo; portanto, é um símbolo universal que está impresso em nosso inconsciente.
É um número importante nas religiões: no cristianismo tem-se a trindade (pai, filho e espírito santo), na qual todas as pessoas são a mesma; no hinduísmo, outra trindade, formada por Brahmã, Vishnú e Shiva. Nos contos de fadas é um número recorrente (junto com o sete).
Por conseguinte, não é esperado que esse número seja usado conscientemente, ou seja, não necessariamente Eça de Queirós colocou o número de propósito no conto, mas provavelmente o fez de modo inconsciente (salienta-se aqui não se pretende pensar na análise do sentido pretendido pelo autor, mas dos possíveis sentidos expostos no texto).
Conforme Jung, segundo a alquimia a tríade denota um estado de oposição, “na medida em que uma tríade sempre pressupõe uma outra”. Nessa oposição se busca o equilíbrio. Ora, no conto tem-se a oposição entre um amor espiritualizado e um materializado. E o equilíbrio não está em Elisa? Elisa é aquela que ama espiritualmente José Matias, mas não deixa de lado os prazeres da carne, pois passa a se relacionar com outros três homens.
O conto corrobora tal hipótese no seguinte excerto: “o amor espiritualiza o homem — e materializa a mulher” — e aqui se marca a dualidade homem e mulher; espiritualidade e materialidade — “Essa espiritualização era fácil ao José Matias, que (sem nós desconfiarmos) nascera desvairadamente espiritualista; mas a humana Elisa encontrou também um gozo delicado nessa ideal adoração de monge, que nem ousa roçar, com os dedos trêmulos e embrulhados no rosário, a túnica da Virgem sublimada”. Nota-se o advérbio “também”: Elisa é materializada, mas também espiritualizada; logo, ela é o equilíbrio.
Desse modo, tem-se por um lado os três parceiros de Elisa e as três fases de José Matias, as quais podem ser percebidas pelas mudanças de comportamento da personagem: na primeira fase, como é recorrente nas narrativas, a personagem é apresentada pelo narrador em seu ambiente natural para depois aparecer o motivo de conflito (Elisa).
Lê-se que Matias nunca tinha “um rasgão brilhante na batina! Nunca uma poeira estouvada nos sapatos! Nunca um pelo rebelde do cabelo ou do bigode fugido daquele rígido alinho que nos desolava!” e que “leu sem palidez ou pranto as Contemplações; permaneceu insensível ante a ferida de Garibáldi”. Assim, o narrador afirma que ele parece ter uma grande superficialidade sentimental.
Na segunda fase, temos a mudança desse personagem, que deixa de ser considerado coração de esquilo; momento em que ele conhece Elisa, a qual é o motivo dessa mudança. José Matias ainda se preocupa com sua aparência, pois, em um momento em que Elisa passeava no terraço da casa da Parreira, “toda a sua atenção se concentrara diante do espelho, no alfinete de coral e pérola para prender a gravata, no colete branco que abotoava e ajustava com a devoção com que um padre novo, na exaltação cândida da primeira missa, se reveste da estola e do amicto, para se acercar do altar”.
Na terceira fase, temos a decadência, em que Matias gasta a herança de seu tio Garmilde em jogos e bebidas. Sua aparência piora, conforme o narrador informa: “estendido numa poltrona, com o colete branco desabotoado, a face lívida descaída sobre o peito, um copo vazio na mão inerte, o José Matias parecia adormecido ou morto”. No entanto, mesmo depois de se tornar um “mendigo”, seu amor por Elisa continua.
Portanto, apesar de não ser evidente no conto, mas sutil, pode-se dividir o comportamento de José Matias em três fases. Em suma, na primeira não ama Elisa (já que não a conhece) e cuida de si, na segunda ama e cuida de si e na terceira ama e não cuida adequadamente de si (o que o leva à morte).
Por conseguinte, o conto José Matias, narrado por um suposto filósofo, parece se configurar como um tratado sobre o equilíbrio entre o amor carnal e o espiritualizado. Dois dos homens que casam com Elisa morrem, o que indica que não tiveram uma vida longa, fazendo com que ela os substitua. José Matias também morre. Portanto, entre os que possuem esse amor exposto no texto, seja espiritualizado ou materializado, a única que continua viva do início até o fim do conto é Elisa, a qual também é a única personagem exposta com esse equilíbrio.
Em Os Maias, como percebe Gasques, o tempo da narrativa se estende por três gerações: D. Afonso, Pedro e Carlos e de cada um há certa narração pormenorizada de uma divisão temporal: infância, velhice e juventude. Gasques, depois de elogiar bastante o romance, aponta que existe um triângulo obscuro envolvendo D. Afonso e D. Maria Eduarda Runa: sem explicações para o leitor, D. Afonso acolhe em casa D. Ana Silveira, dando-se a conhecer por viscondessa:
“Então Vilaça apressou-se a perguntar pela sra. Viscondessa. Era uma Runa, uma prima da mulher de Afonso, que no tempo em que os poetas de Caminha a cantavam, casara com um fidalgote […] depois, viúva e pobre, Afonso recolhera-a por dever de parentela, e para haver uma senhora em Santa Olávia” (Os Maias. p. 50).
Em sequência, tem-se o triângulo amoroso entre Pedro da Maia, Maria Monforte e seu amante italiano, motivo da separação do casal e dos filhos. Na terceira geração, Carlos Eduardo, ainda estudante de medicina, tem sua primeira amante: Carlos “terminou por se enredar num episódio romântico com a mulher dum empregado do governo civil, uma lisboetazinha, que o seduziu pela graça dum corpo de boneca e por uns lindos olhos verdes” (Os Maias, p. 79).
Ao final dos estudos, continua Gasques, Carlos consegue uma segunda amante: uma espanhola prostituta chamada Encarnación. Aqui tem-se um triângulo com Teresinha, a namoradinha de infância que Carlos deixara em Santa Olávia. Formado, Carlos encontra sua terceira amante, “uma senhora holandesa, separada de seu marido” (Os Maias, p. 81). Porém, logo dá fim a esse relacionamento.
A quarta amante é condessa de Gouvarinho, relacionamento que se mantém até a chegada de Maria Eduarda. E, afirma o autor da tese, eis o triângulo mais dramático da narrativa: Carlos da Maia, Maria Eduarda e Joaquim Álvares de Castro Gomes.
Entre os momentos reveladores em que o número três aparece como pano de fundo simbólico, Eduardo Gasques mostra o momento em que Pedro da Maia é traído por Maria Monforte e abandonado com o pequeno Carlos Eduardo, que resolve falar com D. Afonso, com quem não falava há três anos, pois não aceitava a união com a Monforte. D. Afonso conhece seu neto, Carlos Eduardo, e se inteira que a outra neta, Maria Eduarda, fora levada pela mãe e pelo amante.
E aqui podemos perceber novamente a oposição de duas tríades, das quais de uma podemos conhecer bem apenas as características de Maria Monforte, a qual podemos relacionar ao luxo e à traição; em oposição à outra tríade, que tem moralidade e é a parte traída. Também podemos notar nesta os três períodos: infância, juventude e velhice.
Eduardo Gasques informa que, “na simbologia psicanalítica freudiana, o número três tem significação sexual”, relação que fica evidente nos triângulos amorosos do romance. Como exemplo, podemos lembrar o que se passa entre Carlos da Maia e a condessa Gouvarinho: a libido da condessa, tomada de luxúria, resolve desfrutar desse relacionamento proibido na casa de uma tia, que é santa. Aqui notamos outra oposição, entre santidade e luxúria.
Nessa passagem, é forte a presença do três: “havia três semanas que se encontravam nesse lugar; alguém chama à porta com três argoladas” (Gasques, p. 148).

A condessa tem 33 anos. Para Gasques, esta referência, “além da quase blasfêmia de identificar um ponto comum entre o casto filho de Deus e a lúbrica desenfreada, aponta para a crença de que até essa idade todo o vigor físico e intelectual crescia progressivamente”.

Referências:
GASQUES, Antonio Eduardo Galhardo. A Simbologia das casas em Os Maias e Dom Casmurro, 2007.
JUNG C. G. O Homem e seus Símbolos. Editora Nova Fronteira, 1964.
_____. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Editora Vozes Ltda, Petrópolis, 2002.
Queiros, Eça de. José Matias. Disponível em: http://www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/eca11.pdf Acesso: 14-09-2015, 18:51.
_____. Os Maias. São Paulo: Martin Claret, 2006.
NÚÑES Juan Paredes. José Matias de Eça de Queirós – Tentativa de descrição estrutural, 1985.

Resenha crítica do texto “Machado de Assis e o mundo às avessas”, de Sergio Paulo Rouanet

Em “Machado de Assis e o mundo às avessa”, texto sobre “O alienista”, Sergio Paulo Rouanet mostra sua erudição. No início, após apontar que o conto é um dos mais complexos de Machado de Assis, cita Freud, mostrando que os sonhos, assim como a literatura, têm uma hermenêutica aberta.
No segundo parágrafo, cita Augusto Meyer, informando que o crítico afirmou que o conto é uma espécie de autocaricatura de Machado. O texto referido é “Na Casa Verde”, no qual Meyer afirma, ao tratar de Machado, que “o alienista seria o seu autêntico porta-voz, a encarnação do seu pirronismo niilista e inconscientemente, por outro lado, uma autocaricatura”.
E, então, Rouanet expõe que a razão de Simão Bacamarte “é na verdade a de um pensamento que comete suicídio”, assim como Augusto Meyer em seu texto. Além disso, informa que os críticos mais modernos “procuram o sentido do texto no próprio texto, evitando a nota biográfica.
Percebe-se que a frase em que o autor expõe sobre os críticos é curta, a que vem em sequência é mais longa, a depois desta é mais longa ainda, terminando o parágrafo com uma frase mais curta. Desse modo, percebe-se um texto muito bem construído, o qual dá um ritmo confortável de leitura, não cansando o leitor.
O texto faz uma análise de “O alienista”, expondo que o conto mostra uma posição contrária à psiquiatria, à ciência e à razão oficial, além de ser contra as práticas e instituições do poder; movendo-se nos registros cognitivo e político.
Ao tratar do registro cognitivo, o autor expõe que Machado insiste que Simão Bacamarte é um grande médico, para quem tudo se subordina à ciência, ao que começa a fazer um bom resumo do conto, percebendo que Simão Bacamarte “orientou sua política de internamento segundo duas teorias sucessivas e contrárias”.
Como nota Rouanet, na primeira teoria os loucos são aqueles que não têm um perfeito equilíbrio entre suas faculdades. A aplicação desta teoria tem duas etapas; o autor descreve que na primeira são “internados apenas os desequilibrados notórios”, reconhecidos como loucos tanto pela medicina como pelo senso comum. Então, descreve os loucos dessa etapa.
Na segunda etapa da mesma teoria, o autor salienta que, apesar da loucura continuar sendo definida pelo desequilíbrio das faculdades, esse desequilíbrio não se manifestava apenas por comportamentos patológicos, “mas por hábitos que se afastassem da moralidade convencional”. Assim, supersticiosos, vaidosos, mentirosos, os poetas excessivamente imaginosos (porque suas metáforas afastam da verdade literal), entre outros, são considerados loucos.
Desse modo, o autor continua seu resumo, mostrando que Martim Brito é internado por dizer que Deus tinha ultrapassado a si mesmo ao criar D. Evarista e esta é internada porque só pensava em roupas.
            Simão, informa Rouanet, percebendo que 4/5 da população de Itaguaí fora internada, considera que sua primeira teoria estava errada, passando a defender que o desequilíbrio era normal e exemplar. A segunda teoria também passa por dois estágios. No primeiro, os antigos reclusos são soltos, dando lugar aos novos loucos, que são pessoas perfeitamente equilibradas. O tratamento era atacar a perfeição moral predominante. A cura era rápida e a Casa Verde logo ficou vazia.
            No entanto, faltava dar mais um passo na sua teoria: plus ultra, descreve o autor. Com isso, o médico se dá conta de que havia uma pessoa perfeitamente equilibrada, que era ele. Então, Simão Bacamarte se interna, o que, para Rouanet, é a única decisão coerente do médico.
            O autor dispara que não há dúvida que o “Alienista” à psiquiatria e à instituição psiquiátrica. Certamente, o autor tem razão; podemos também perceber que o conto critica as práticas e instituições de poder, a ciência e a razão. Como um exemplo do que é afirmado, pode-se citar o fato de que Simão escolhe sua mulher por causa de suas ancas largas, não porque era bonita, mas porque queria filhos. Todavia, não tem filhos. Assim, nota-se que o conto expõe que a ciência falha.
            Rouanet defende que Machado estava a par da literatura sobre psicologia e distúrbios psíquicos, corroborando com evidências apresentadas. Ademais, o autor demonstra uma leitura pormenorizada do conto, mostrando relações de “O alienista” com outros textos e elementos.
            Desse modo, escreve que Simão Bacamarte teria tido como inspiração o médico José da Cruz Jobim, senador conservador que indignara Machado de Assis ao atacar estudantes de São Paulo. De modo análogo, a Casa Verde corresponderia a uma casa localizada na Praia Vermelha, “onde ficava o Hospício D. Pedro II”. Já Itaguaí seria o Brasil.
            Na sequência do texto, o autor compara a obra “O Lapso” (1883), a qual apresenta relações com “O alienista”. Percebe-se que é uma comparação minuciosa e interessante para o leitor, pois tal obra possui muitos pontos de contato com o conto. Além disso, compara como o “Conto Alexandrino” e expõe como Machado mostra a loucura em “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, comparando com “O alienista”, evidenciando, assim, ser um grande conhecedor das obras machadianas.
            O autor também faz uma divisão muito conveniente de elementos tratados de “O alienista”. Desse modo, reserva um espaço de seu texto para tratar do político; descreve que os títulos dos capítulos do conto reproduzem articulações da Revolução Francesa. O capítulo 5 é o Terror, o 6 é a Rebelião e o 10 é a Restauração. Em Paris, a sequência foi a Rebelião, o Terror e a Restauração.
            Para o autor, “a inversão temporal pode ser uma forma sutil de aludir ao caráter reativo, reflexo, dos movimentos populares no Brasil, em contraste com a Europa, onde o povo tem um protagonismo originário [...]”. Nota-se o elogiável cuidado em dizer que a inversão temporal “pode ser”, não que é.
            Segundo Rouanet, “a Casa Verde é um microcosmo da sociedade exterior”; é uma instituição total, parte de um sistema de dominação autoritária que abrange toda a cidade, tendo como outras peças desse dispositivo de poder a Igreja, “representada pelo padre Lopes, a administração municipal, representada pela Câmara de Vereadores, e a classe dos proprietários, à qual pertencia o próprio Simão Bacamarte”.
            Por conseguinte, o autor nos lembra que existe uma mescla de discursos, dos quais Simão Bacamarte se apropria para ter sua autoridade enquanto médico. Este, além da ciência, tem o discurso da religião para lhe reforçar o autoritarismo. Rouanet critica os Canjicas, afirmando que são meros arruaceiros, que se subjugam à palavra do alienista, o qual diz que só presta conta de seus atos a Deus e a seus mestres, sendo estes a ciência, a razão, etc.
            Porfírio é descrito pelo texto de Rouanet como um demagogo vulgar, que tem retórica vazia; também mostra o caráter vil da personagem, a qual tem como móvel a sede de poder, o que acaba alcançando por um tempo. No entanto, trai o povo que o elevara a essa posição.
            Expõe o autor que, no registro cognitivo, o leitor é forçado a concluir que a razão do alienista é louca; e, perspicazmente, nota que não tem sequer o consolo de idealizar a loucura, considerando-a um modo de acesso à sabedoria verdadeira.
             O mundo às avessas, o qual dá nome ao texto, é referido como o “antigo topos da cultura ocidental”. Ou seja, era uma inversão da ordem natural das coisas, onde “os meninos eram mais sábios que os mais velhos, os lobos fugiam das ovelhas”, etc. Segundo o autor, na origem do duplo ceticismo, cognitivo e político, transperece em o “Alienista” tal inversão. Ademais, trata com eloquência sobre “O Elogia da loucura” de Erasmo, defendendo que este melhor aborda o tema da inversão.
            Uma das partes mais interessantes de seu texto é quando escreve que, se vemos Simão Bacamarte como um louco, concordamos com o diagnóstico que este faz sobre si mesmo, dando crédito ao seu autodiagnóstico, mas não podemos dar crédito por vir de um louco, etc. num regresso infinito. Além disso, o autor também defende que a inspiração do registro político pode ter vindo de um conto de Edgar Allan Poe.
            Por fim, no último parágrafo de seu texto, escreve que “o mundo às avessas é cíclico e as posições na roda da vida se revezam continuamente”*.
           
Referências:

ROUANET, Sergio Paulo. Machado de Assis e o mundo às avessas. Marta de Senna (Org.). Rio de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008.

At the beggining

Pois é, um novo dia começa. É sempre assim, não é? Mas estou gostando deste. A luz do oriente brilhou. Venceremos. O ocaso é só o começo, se lembre disto. Nós estamos no começo de nossa jornada. A roda do tempo já iniciou. A visão de conjunto é mais importante, esqueça este pedaço. Progressão, ritmo. Este é o resumo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Transgressão

Com seu manto, ele toca violoncelo. Ela toca violino. Ambos no mesmo ritmo. Ele com roupas escuras, assim como ela.
Ora, ora. Queria ver roupas brancas!
O vermelho do coração de chocolate se parte numa ilusão bem feitora. Os picos dos arranha céus dos Estados Unidos surgem. A sociedade progride.
E transgride.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sobre os vadios

É um grande problema ser um vadio. O vadio, como não tem o que fazer, se entrega ao pensar; o pensar nem sempre é positivo, o raciocínio induz ao erro; e induz ao nonsense. Quem procura acha.

Natureza renascida

Novos cenários à vista. O final exige prudência. Consciência do perigo é essencial.
Eu vejo arbustos, belas árvores com folhas vermelhas, belos canteiros. As sombras se dissiparam. Satanás ficará triste. Novos caminhos surgem. O mar de Sargasso morreu. Deus me ajudou. Não devo me apegar aos problemas, reaprendi esta importante lição a pouco tempo. A felicidade penetra meu espírito, mas ainda preciso combater a preocupação. O ar puro e a luz me abraçam. Os gênios se enganaram, não se encontra a verdade usando-se apenas o lado esquerdo do cérebro, apenas o masculino. O equilíbrio mostrá-la-á.
Arigato!