Alma em fogo, cabelos vermelhos, ódio à solta
Black metal destruidor, o inferno agradece
Caminhe para cima, o inferno está acima
Hey, ouça o som do caminho!
domingo, 25 de setembro de 2016
What I want to say
Eu estou mergulhado. Mergulhado. Mergulhado em um discurso de esquerda. Mergulhado na classe média. Eu estou mergulhado na religião que tem céu e inferno. Eu estou mergulhado na sociedade de consumo. Eu estou mergulhado no amor pelos animais de estimação. Estou mergulhado no gosto por séries, vídeo games e filmes. E se eu não estivesse mergulhado? E se eu pudesse gostar de outras formas de entretenimento, se pudesse odiar o que os animais de estimação são, se não fosse consumista, se não comprasse por esporte, se tivesse outras religiões que não me dessem medo, se não estivesse em nenhuma classe social... O que seria eu? Estou me afogando, dia após dia.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
Flor de Ipê
Eu sinto o sol, a flor que floresce neste abril nebuloso. Eu não faço isso por mim, eu não jogo a flor, que deveria ser vermelha mas que é amarela, na correnteza por mim. Não, eu não faço por mim. A correnteza abraçou a pequena flor, que despedaçada fora. Os túneis estão loucos hoje em dia.
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
Eulália
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
Lullaby
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
Cantava
Eulália. Eulália, dos olhos verdes e cabelos rosados. Aquela que se
esquivaria da nossa presença, aquela que viajaria espaços inconcebíveis em um
segundo. Aquela que conhecia os deuses não mortos. Aquela que falava a língua
dos espíritos. Ela cantava
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
Lullaby
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
E de novo, lembrava qualquer cena adormecida em sua mente, a
cena de um assassinato terrível, cenas que se repetiriam mais tarde. Mas por
quê? Por quê tinha que ser assim? Mas era, e isso era imutável. Agora, cantaria
mais um pouco enquanto avançava em direção a uma cama
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
Lullaby
Lalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalalala
A garota loura dormindo não acordava. Era algo bem
improvável que não acordasse com aquela canção perturbadora na calada da noite.
Portanto, não deveria estar em seu estado normal. Eulália sabia, estava
sonhando. Era um poder de Eulália, a vampira de setecentos anos de idade. Sua
mãe a ensinara, e antes disso a mãe dela ensinara sua mãe, e antes disso sua vó
ensinara sua mãe e assim por diante. Produzir sonhos, assim como viajar fora do
corpo. Mas a vampira não estava fora do corpo. A vampira parara de cantar,
olhava, agora, para a doce Lana.
Lana era linda, lábios finos, olhos proeminentes que mesmo
fechados eram bonitos, cabelo louro, muito liso, nariz fino. Era uma pequena
princesa. Eulália sabia, e a desejava. Então ela fez, dois furos criou em seu
delicado pescoço. Estava feito. Mas como foi gostosa aquela mordida! Como
estava gostoso aquele sangue quente!
segunda-feira, 12 de setembro de 2016
domingo, 11 de setembro de 2016
5
Hello! I'm trapped in your trick. Oh darkness, my old friend, how are you? I'm busy at the moment. Drunk too much. Sex is out of question. Bang bang. My name is another, I live in a pool. I want to be the dead. I'm a vampire. What did you say?
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Ask
Death,
common death. Hope, in this night. Tonight we won’t get another chance.
Centuries are wasteful. The skies will be burned, but our seeds will reborn,
everything we have created. We will fight again, in other bodies. We will never
come down. We will disagree, oppose, all of this. We don’t agree, we never
agree, but there’s no scape. I don’t trust the false words the bible says. I
will recover and get above someday. I will revenge. Things are undone. I wouldn’t
ask for it. I’m revolted. I wouldn’t ask to be reborn. I wouldn’t ask to have
doubts. I will revenge. When the spirit comes to earth, when the soul never
dies. When the spirit denies to die, when I deny to exist. I will ask and not
find the answer. I will ask for your gold reason. Can you justify? The world
isn’t in my hands. That blue glob.
sábado, 23 de julho de 2016
Eu, meu eu
Minha subjetividade está sendo drenada. Meu corpo, meu espírito, minha alma, meu eu. Aquilo está me drenando. Como vencer? A minha personalidade está se extinguindo; mesmo que você não goste de você; aliás, você nem existe. Você precisa parar de viver na caverna, Platão ficaria envergonhado. Você só sabe falar stricknês às vezes.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Referência espacial
Por que me colocou aqui? Me diga! Por que meio? Estou em um lugar bom? Onde estou? Você me colocou aqui, somente você. Em que lugar estou colocando o eu que não existe? Estou caminhando para lugar nenhum porque não existe ainda. Estou em lugar algum. Algum lugar. Traz e cola. Estou em algum lugar. Onde você me colocou?
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
O número 3 em José Matias e Os Maias de Eça de Queirós
No conto José Matias, percebe-se uma insistência no número três.
Coincidência? Pode ser, mas considerar-se-á a outra possibilidade.
Assim, como aponta Núnez, são três narradores, sendo um o narrador
introdutor e mais dois secundários; são três carruagens que acompanham o caixão;
são três anos que José Matias passa espreitando o apontador de Obras Públicas,
três anos que vive encafuado no portal negro; o narrador cita por três vezes
que durou dez anos um enlevo (do amor entre as personagens), o qual ocorre logo
depois que Matias e Elisa se conhecem; são três parceiros ligados à carne, à
sexualidade, que Elisa tem no decorrer do conto: o Miranda, o Nogueira e o
apontador de Obras Públicas; também pode ser percebido um triângulo amoroso
entre José Matias, o apontador de Obras Públicas (no final do conto, sendo no
começo e no meio os outros dois, perfazendo a mesma função) e Elisa; são três
textos citados pelo narrador: Defesa da Filosofia Hegeliana, As Origens do
Utilitarismo e Ensaio dos Fenômenos Afetivos.
Será tudo mera coincidência? O número três tem seu simbolismo. Pode-se
comparar este número com uma marca; este é um elemento somente do nosso tempo
recente, enquanto o homem sempre soube o que é o número três, mesmo sem ter uma
linguagem que pudesse descrevê-lo; portanto, é um símbolo universal que está
impresso em nosso inconsciente.
É um número importante nas religiões: no cristianismo tem-se a trindade
(pai, filho e espírito santo), na qual todas as pessoas são a mesma; no
hinduísmo, outra trindade, formada por Brahmã, Vishnú e Shiva. Nos contos de
fadas é um número recorrente (junto com o sete).
Por conseguinte, não é esperado que esse número seja usado
conscientemente, ou seja, não necessariamente Eça de Queirós colocou o número
de propósito no conto, mas provavelmente o fez de modo inconsciente (salienta-se
aqui não se pretende pensar na análise do sentido pretendido pelo autor, mas dos
possíveis sentidos expostos no texto).
Conforme Jung, segundo a alquimia a tríade denota um estado de oposição,
“na medida em que uma tríade sempre pressupõe uma outra”. Nessa oposição se
busca o equilíbrio. Ora, no conto tem-se a oposição entre um amor espiritualizado
e um materializado. E o equilíbrio não está em Elisa? Elisa é aquela que ama
espiritualmente José Matias, mas não deixa de lado os prazeres da carne, pois passa
a se relacionar com outros três homens.
O conto corrobora tal hipótese no seguinte excerto: “o amor
espiritualiza o homem — e materializa a mulher” — e aqui se marca a dualidade
homem e mulher; espiritualidade e materialidade — “Essa espiritualização era
fácil ao José Matias, que (sem nós desconfiarmos) nascera desvairadamente
espiritualista; mas a humana Elisa encontrou também um gozo delicado nessa
ideal adoração de monge, que nem ousa roçar, com os dedos trêmulos e
embrulhados no rosário, a túnica da Virgem sublimada”. Nota-se o advérbio
“também”: Elisa é materializada, mas também espiritualizada; logo, ela é o
equilíbrio.
Desse modo, tem-se por um lado os três parceiros de Elisa e as três
fases de José Matias, as quais podem ser percebidas pelas mudanças de
comportamento da personagem: na primeira fase, como é recorrente nas
narrativas, a personagem é apresentada pelo narrador em seu ambiente natural
para depois aparecer o motivo de conflito (Elisa).
Lê-se que Matias nunca tinha “um rasgão brilhante na batina! Nunca uma
poeira estouvada nos sapatos! Nunca um pelo rebelde do cabelo ou do bigode fugido
daquele rígido alinho que nos desolava!” e que “leu sem palidez ou pranto as
Contemplações; permaneceu insensível ante a ferida de Garibáldi”. Assim, o
narrador afirma que ele parece ter uma grande superficialidade sentimental.
Na segunda fase, temos a mudança desse personagem, que deixa de ser
considerado coração de esquilo; momento em que ele conhece Elisa, a qual é o
motivo dessa mudança. José Matias ainda se preocupa com sua aparência, pois, em
um momento em que Elisa passeava no terraço da casa da Parreira, “toda a sua
atenção se concentrara diante do espelho, no alfinete de coral e pérola para
prender a gravata, no colete branco que abotoava e ajustava com a devoção com
que um padre novo, na exaltação cândida da primeira missa, se reveste da estola
e do amicto, para se acercar do altar”.
Na terceira fase, temos a decadência, em que Matias gasta a herança de
seu tio Garmilde em jogos e bebidas. Sua aparência piora, conforme o narrador
informa: “estendido numa poltrona, com o colete branco desabotoado, a face
lívida descaída sobre o peito, um copo vazio na mão inerte, o José Matias
parecia adormecido ou morto”. No entanto, mesmo depois de se tornar um
“mendigo”, seu amor por Elisa continua.
Portanto, apesar de não ser evidente no conto, mas sutil, pode-se
dividir o comportamento de José Matias em três fases. Em suma, na primeira não
ama Elisa (já que não a conhece) e cuida de si, na segunda ama e cuida de si e
na terceira ama e não cuida adequadamente de si (o que o leva à morte).
Por conseguinte, o conto José Matias, narrado por um suposto filósofo,
parece se configurar como um tratado sobre o equilíbrio entre o amor carnal e o
espiritualizado. Dois dos homens que casam com Elisa morrem, o que indica que
não tiveram uma vida longa, fazendo com que ela os substitua. José Matias
também morre. Portanto, entre os que possuem esse amor exposto no texto, seja
espiritualizado ou materializado, a única que continua viva do início até o fim
do conto é Elisa, a qual também é a única personagem exposta com esse
equilíbrio.
Em Os Maias, como percebe Gasques, o tempo da narrativa se estende por
três gerações: D. Afonso, Pedro e Carlos e de cada um há certa narração
pormenorizada de uma divisão temporal: infância, velhice e juventude. Gasques,
depois de elogiar bastante o romance, aponta que existe um triângulo obscuro
envolvendo D. Afonso e D. Maria Eduarda Runa: sem explicações para o leitor, D.
Afonso acolhe em casa D. Ana Silveira, dando-se a conhecer por viscondessa:
“Então Vilaça apressou-se a perguntar pela sra. Viscondessa. Era uma
Runa, uma prima da mulher de Afonso, que no tempo em que os poetas de Caminha a
cantavam, casara com um fidalgote […] depois, viúva e pobre, Afonso recolhera-a
por dever de parentela, e para haver uma senhora em Santa Olávia” (Os Maias. p.
50).
Em sequência, tem-se o triângulo amoroso entre Pedro da Maia, Maria
Monforte e seu amante italiano, motivo da separação do casal e dos filhos. Na
terceira geração, Carlos Eduardo, ainda estudante de medicina, tem sua primeira
amante: Carlos “terminou por se enredar num episódio romântico com a mulher dum
empregado do governo civil, uma lisboetazinha, que o seduziu pela graça dum
corpo de boneca e por uns lindos olhos verdes” (Os Maias, p. 79).
Ao final dos estudos, continua Gasques, Carlos consegue uma segunda
amante: uma espanhola prostituta chamada Encarnación. Aqui tem-se um triângulo
com Teresinha, a namoradinha de infância que Carlos deixara em Santa Olávia. Formado,
Carlos encontra sua terceira amante, “uma senhora holandesa, separada de seu
marido” (Os Maias, p. 81). Porém, logo dá fim a esse relacionamento.
A quarta amante é condessa de Gouvarinho, relacionamento que se mantém
até a chegada de Maria Eduarda. E, afirma o autor da tese, eis o triângulo mais
dramático da narrativa: Carlos da Maia, Maria Eduarda e Joaquim Álvares de
Castro Gomes.
Entre os momentos reveladores em que o número três aparece como pano de
fundo simbólico, Eduardo Gasques mostra o momento em que Pedro da Maia é traído
por Maria Monforte e abandonado com o pequeno Carlos Eduardo, que resolve falar
com D. Afonso, com quem não falava há três anos, pois não aceitava a união com
a Monforte. D. Afonso conhece seu neto, Carlos Eduardo, e se inteira que a
outra neta, Maria Eduarda, fora levada pela mãe e pelo amante.
E aqui podemos perceber novamente a oposição de duas tríades, das quais
de uma podemos conhecer bem apenas as características de Maria Monforte, a qual
podemos relacionar ao luxo e à traição; em oposição à outra tríade, que tem
moralidade e é a parte traída. Também podemos notar nesta os três períodos:
infância, juventude e velhice.
Eduardo Gasques informa que, “na simbologia psicanalítica freudiana, o
número três tem significação sexual”, relação que fica evidente nos triângulos
amorosos do romance. Como exemplo, podemos lembrar o que se passa entre Carlos
da Maia e a condessa Gouvarinho: a libido da condessa, tomada de luxúria,
resolve desfrutar desse relacionamento proibido na casa de uma tia, que é
santa. Aqui notamos outra oposição, entre santidade e luxúria.
Nessa passagem, é forte a presença do três: “havia três semanas que se
encontravam nesse lugar; alguém chama à porta com três argoladas” (Gasques, p.
148).
A condessa tem 33 anos. Para Gasques, esta referência, “além da quase
blasfêmia de identificar um ponto comum entre o casto filho de Deus e a lúbrica
desenfreada, aponta para a crença de que até essa idade todo o vigor físico e
intelectual crescia progressivamente”.
Referências:
GASQUES, Antonio Eduardo Galhardo. A Simbologia das casas em Os Maias e Dom
Casmurro, 2007.
JUNG C. G. O
Homem e seus Símbolos. Editora Nova Fronteira, 1964.
_____. Os
Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Editora Vozes Ltda, Petrópolis, 2002.
Queiros, Eça de. José
Matias. Disponível em: http://www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/eca11.pdf Acesso: 14-09-2015, 18:51.
_____. Os
Maias. São Paulo: Martin Claret, 2006.
NÚÑES Juan Paredes. José Matias de Eça de Queirós – Tentativa de descrição estrutural,
1985.
Resenha crítica do texto “Machado de Assis e o mundo às avessas”, de Sergio Paulo Rouanet
Em “Machado de Assis e o mundo às avessa”, texto sobre “O alienista”, Sergio
Paulo Rouanet mostra sua erudição. No início, após apontar que o conto é um dos
mais complexos de Machado de Assis, cita Freud, mostrando que os sonhos, assim
como a literatura, têm uma hermenêutica aberta.
No segundo parágrafo, cita Augusto Meyer, informando que o crítico
afirmou que o conto é uma espécie de autocaricatura de Machado. O texto
referido é “Na Casa Verde”, no qual Meyer afirma, ao tratar de Machado, que “o
alienista seria o seu autêntico porta-voz, a encarnação do seu pirronismo
niilista e inconscientemente, por outro lado, uma autocaricatura”.
E, então, Rouanet expõe que a razão de Simão Bacamarte “é na verdade a
de um pensamento que comete suicídio”, assim como Augusto Meyer em seu texto.
Além disso, informa que os críticos mais modernos “procuram o sentido do texto
no próprio texto, evitando a nota biográfica.
Percebe-se que a frase em que o autor expõe sobre os críticos é curta, a
que vem em sequência é mais longa, a depois desta é mais longa ainda, terminando
o parágrafo com uma frase mais curta. Desse modo, percebe-se um texto muito bem
construído, o qual dá um ritmo confortável de leitura, não cansando o leitor.
O texto faz uma análise de “O alienista”, expondo que o conto mostra uma
posição contrária à psiquiatria, à ciência e à razão oficial, além de ser
contra as práticas e instituições do poder; movendo-se nos registros cognitivo
e político.
Ao tratar do registro cognitivo, o autor expõe que Machado insiste que
Simão Bacamarte é um grande médico, para quem tudo se subordina à ciência, ao
que começa a fazer um bom resumo do conto, percebendo que Simão Bacamarte
“orientou sua política de internamento segundo duas teorias sucessivas e
contrárias”.
Como nota Rouanet, na primeira teoria os loucos são aqueles que não têm
um perfeito equilíbrio entre suas faculdades. A aplicação desta teoria tem duas
etapas; o autor descreve que na primeira são “internados apenas os
desequilibrados notórios”, reconhecidos como loucos tanto pela medicina como
pelo senso comum. Então, descreve os loucos dessa etapa.
Na segunda etapa da mesma teoria, o autor salienta que, apesar da
loucura continuar sendo definida pelo desequilíbrio das faculdades, esse
desequilíbrio não se manifestava apenas por comportamentos patológicos, “mas por
hábitos que se afastassem da moralidade convencional”. Assim, supersticiosos,
vaidosos, mentirosos, os poetas excessivamente imaginosos (porque suas
metáforas afastam da verdade literal), entre outros, são considerados loucos.
Desse modo, o autor continua seu resumo, mostrando que Martim Brito é
internado por dizer que Deus tinha ultrapassado a si mesmo ao criar D. Evarista
e esta é internada porque só pensava em roupas.
Simão, informa Rouanet, percebendo
que 4/5 da população de Itaguaí fora internada, considera que sua primeira
teoria estava errada, passando a defender que o desequilíbrio era normal e
exemplar. A segunda teoria também passa por dois estágios. No primeiro, os
antigos reclusos são soltos, dando lugar aos novos loucos, que são pessoas perfeitamente
equilibradas. O tratamento era atacar a perfeição moral predominante. A cura
era rápida e a Casa Verde logo ficou vazia.
No entanto, faltava dar mais um
passo na sua teoria: plus ultra, descreve o autor. Com isso, o médico se dá
conta de que havia uma pessoa perfeitamente equilibrada, que era ele. Então,
Simão Bacamarte se interna, o que, para Rouanet, é a única decisão coerente do
médico.
O autor dispara que não há dúvida
que o “Alienista” à psiquiatria e à instituição psiquiátrica. Certamente, o
autor tem razão; podemos também perceber que o conto critica as práticas e
instituições de poder, a ciência e a razão. Como um exemplo do que é afirmado,
pode-se citar o fato de que Simão escolhe sua mulher por causa de suas ancas
largas, não porque era bonita, mas porque queria filhos. Todavia, não tem
filhos. Assim, nota-se que o conto expõe que a ciência falha.
Rouanet defende que Machado estava a
par da literatura sobre psicologia e distúrbios psíquicos, corroborando com
evidências apresentadas. Ademais, o autor demonstra uma leitura pormenorizada
do conto, mostrando relações de “O alienista” com outros textos e elementos.
Desse modo, escreve que Simão
Bacamarte teria tido como inspiração o médico José da Cruz Jobim, senador
conservador que indignara Machado de Assis ao atacar estudantes de São Paulo.
De modo análogo, a Casa Verde corresponderia a uma casa localizada na Praia
Vermelha, “onde ficava o Hospício D. Pedro II”. Já Itaguaí seria o Brasil.
Na sequência do texto, o autor
compara a obra “O Lapso” (1883), a qual apresenta relações com “O alienista”.
Percebe-se que é uma comparação minuciosa e interessante para o leitor, pois
tal obra possui muitos pontos de contato com o conto. Além disso, compara como
o “Conto Alexandrino” e expõe como Machado mostra a loucura em “Memórias
póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, comparando com “O alienista”,
evidenciando, assim, ser um grande conhecedor das obras machadianas.
O autor também faz uma divisão muito
conveniente de elementos tratados de “O alienista”. Desse modo, reserva um
espaço de seu texto para tratar do político; descreve que os títulos dos
capítulos do conto reproduzem articulações da Revolução Francesa. O capítulo 5
é o Terror, o 6 é a Rebelião e o 10 é a Restauração. Em Paris, a sequência foi
a Rebelião, o Terror e a Restauração.
Para o autor, “a inversão temporal
pode ser uma forma sutil de aludir ao caráter reativo, reflexo, dos movimentos
populares no Brasil, em contraste com a Europa, onde o povo tem um protagonismo
originário [...]”. Nota-se o elogiável cuidado em dizer que a inversão temporal
“pode ser”, não que é.
Segundo Rouanet, “a Casa Verde é um
microcosmo da sociedade exterior”; é uma instituição total, parte de um sistema
de dominação autoritária que abrange toda a cidade, tendo como outras peças
desse dispositivo de poder a Igreja, “representada pelo padre Lopes, a
administração municipal, representada pela Câmara de Vereadores, e a classe dos
proprietários, à qual pertencia o próprio Simão Bacamarte”.
Por conseguinte, o autor nos lembra
que existe uma mescla de discursos, dos quais Simão Bacamarte se apropria para
ter sua autoridade enquanto médico. Este, além da ciência, tem o discurso da
religião para lhe reforçar o autoritarismo. Rouanet critica os Canjicas,
afirmando que são meros arruaceiros, que se subjugam à palavra do alienista, o
qual diz que só presta conta de seus atos a Deus e a seus mestres, sendo estes
a ciência, a razão, etc.
Porfírio é descrito pelo texto de
Rouanet como um demagogo vulgar, que tem retórica vazia; também mostra o
caráter vil da personagem, a qual tem como móvel a sede de poder, o que acaba
alcançando por um tempo. No entanto, trai o povo que o elevara a essa posição.
Expõe o autor que, no registro
cognitivo, o leitor é forçado a concluir que a razão do alienista é louca; e,
perspicazmente, nota que não tem sequer o consolo de idealizar a loucura,
considerando-a um modo de acesso à sabedoria verdadeira.
O mundo às avessas, o qual dá nome ao texto, é
referido como o “antigo topos da cultura ocidental”. Ou seja, era uma inversão
da ordem natural das coisas, onde “os meninos eram mais sábios que os mais
velhos, os lobos fugiam das ovelhas”, etc. Segundo o autor, na origem do duplo
ceticismo, cognitivo e político, transperece em o “Alienista” tal inversão.
Ademais, trata com eloquência sobre “O Elogia da loucura” de Erasmo, defendendo
que este melhor aborda o tema da inversão.
Uma das partes mais interessantes de
seu texto é quando escreve que, se vemos Simão Bacamarte como um louco,
concordamos com o diagnóstico que este faz sobre si mesmo, dando crédito ao seu
autodiagnóstico, mas não podemos dar crédito por vir de um louco, etc. num
regresso infinito. Além disso, o autor também defende que a inspiração do
registro político pode ter vindo de um conto de Edgar Allan Poe.
Por fim, no último parágrafo de seu
texto, escreve que “o mundo às avessas é cíclico e as posições na roda da vida
se revezam continuamente”*.
Referências:
ROUANET,
Sergio Paulo. Machado de Assis e o mundo às avessas. Marta de Senna (Org.). Rio
de Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa, 2008.
At the beggining
Pois é, um novo dia começa. É sempre assim, não é? Mas estou gostando deste. A luz do oriente brilhou. Venceremos. O ocaso é só o começo, se lembre disto. Nós estamos no começo de nossa jornada. A roda do tempo já iniciou. A visão de conjunto é mais importante, esqueça este pedaço. Progressão, ritmo. Este é o resumo.
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