segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Vitória de Brennar — 200 drakens e um nome na taverna

 O encapuzado distribuiu as cartas finais com a mesma serenidade de um carrasco amolando a lâmina. A mesa era um altar silencioso, e Brennar, o improvável sacerdote do blefe.

Ele respirou fundo.
Empurrou suas apostas.
E encarou o homem à sua frente com uma confiança que ele próprio não sabia se era real ou fabricada pelo rum.

A sétima estrela virou:

O Grito do Imperador.
Um símbolo raro.
O suficiente para virar o jogo.

O encapuzado parou.
As sombras ao redor pareceram segurar o ar.
Por um instante, ninguém respirou.

Então, lentamente, o homem afastou suas cartas, frustrado — e pela primeira vez, um tiquinho de respeito cruzou seu semblante oculto.

— Ganhou — resmungou ele, empurrando um pequeno saco de couro pela mesa. — Duzentos drakens. E a desgraça que vem com eles.

Brennar abriu o saco. As moedas reluziram sob a luz da lamparina, como pequenos sóis dourados. Ele riu.
Uma risada sincera.
Talvez a primeira da noite.

A taverna inteira virou os olhos para ele. Alguns com inveja. Outros com curiosidade. Muitos com intenção predatória.
Ganhar no Sete Estrelas não era apenas sorte — era um convite ao caos.

Mesmo assim… por um momento, Brennar estava no topo do mundo.


Agora o leitor (e Brennar) decide o próximo passo:

Opção 1 — Gastar os drakens

Brennar se levanta da mesa com o sorriso de um homem rico — ou de alguém temporariamente iludido pela riqueza.

Ele pode escolher em que torrar seus recém-adquiridos drakens:

1. Bebidas

Ele retorna ao balcão, pedindo rum caro e cerveja melhor ainda. Talvez finalmente vá degustar algo que não tenha gosto de ferrugem e arrependimento.
→ Pode atrair amigos… ou ladrões.

2. Mulheres (ou companhia noturna)

Com dinheiro no bolso, Brennar pode escolher qualquer companhia desejada, sem precisar torcer para que alguém aceite por pena ou alegria desmedida.
→ Pode ser uma noite memorável… ou uma armadilha.

3. Armas e equipamento

Visitar o armeiro e finalmente comprar uma lâmina afiada, talvez até mágica. Uma chance rara de melhorar as próprias chances de sobrevivência no mundo.
→ Poder e proteção… mas armas chamam violência.

Cada gasto determinará novos rumos, alianças ou confusões.


Opção 2 — Apostar Mais: Dobrar a Sorte ou Morrer na Tentativa

Brennar sente o peso das moedas… e da tentação.
O encapuzado já embaralha novamente, como se soubesse que a ganância é uma criatura sedutora demais para ser ignorada.

— Outra rodada? — pergunta, mostrando os dentes. — Agora a aposta mínima é 200.

A mesa parece chamá-lo como um canto de sereia.
Se Brennar ganhar novamente, pode multiplicar sua fortuna e virar lenda.
Se perder…
Ele já sabe como termina quem perde no Sete Estrelas.

Se escolher apostar mais, haverá nova rolagem de d6:

  • 1–2: derrota brutal (e a cobrança será alta)

  • 3–4: empate tenso (sem ganhar, sem perder — mas algo estranho acontece)

  • 5–6: vitória inesperada (e fama instantânea)

Continuar no Jogo — Sete Estrelas

 O barulho da taverna pareceu sumir assim que o encapuzado terminou de embaralhar. As cartas batiam na mesa com um som seco, firme, como se cada passada anunciasse o destino de Brennar. O homem levantou apenas o queixo, deixando que a pouca luz revelasse um sorriso torto, mais ameaçador do que cordial.

— Sete Estrelas começa com três cartas… — murmurou. — E termina com a verdade saindo de alguém.

Brennar não sabia se ele falava do jogo ou de algo bem pior.

As cartas foram distribuídas.
A primeira estrela: Cinco de Lua.
A segunda estrela: Coroa Sombria.
A terceira… virou em silêncio, um Trono Partido.

Símbolos ruins.
Presságios piores.

Mas Brennar manteve a expressão firme, apenas apoiando o cotovelo na mesa, como se não estivesse apostando mais do que possuía.

— Sua vez de apostar — disse o encapuzado.

Brennar empurrou fichas fictícias para o centro. Não tinha drakens, mas tinha coragem — ou estupidez — suficiente para blefar contra alguém que claramente jogava com vidas.

O homem encapuzado acompanhou a aposta com facilidade.
A quarta carta virou.
A quinta.
A sexta.

O suor começou a escorrer pela nuca de Brennar. As chances eram mínimas. E o estranho parecia saber disso desde o começo.

A sétima carta — a Estrela Final — caiu como uma sentença:

Pedra do Carrasco.

Um mau presságio absoluto.

O encapuzado nem comemorou. Apenas cruzou os dedos e disse:

— Perdeu. Hora de pagar.

A taverna ficou silenciosa. Parecia que todos já conheciam o ritual daquela mesa. Brennar engoliu seco. Agora não era mais jogo — era cobrança.

E a cobrança não seria em drakens.


Role um d6 (1–3: derrota). Agora role novamente para decidir o destino final.

Role OUTRO d6

1–3: morte
4–6: sobrevive, mas com marca permanente


Destino 1 — (1–3 no segundo dado): Morte Silenciosa

O encapuzado se levanta devagar, como uma sombra que ganhou forma. Antes que Brennar possa reagir, a mão do estranho se move com rapidez impossível — uma lâmina curva surge de dentro da manga.

Ninguém na taverna grita.
Ninguém tenta impedir.
É como se todos já soubessem o que acontece com quem perde no Sete Estrelas.

Um corte preciso.
Rápido.
Frio.

Brennar cai sobre a mesa, o sangue escorrendo entre as cartas amareladas.
A última coisa que vê é o sorriso satisfeito do encapuzado, recolhendo suas cartas como quem arruma ferramentas de trabalho.

A noite termina ali.
O jogo, também.


Destino 2 — (4–6 no segundo dado): Sobrevive, mas não sai ileso

O encapuzado se levanta, puxando Brennar pela gola.

— Sem ouro… paga-se com carne — diz ele, como se fosse regra antiga.

A lâmina aparece, mas dessa vez não para tirar a vida — apenas um preço parcial.

Um golpe atravessa o ombro de Brennar, profundo o bastante para que ele grite, mas não para matá-lo. A dor explode como fogo líquido. Ele cai de joelhos, a visão turva.

— Está pago — declara o encapuzado, limpando a lâmina na capa. — Da próxima vez… traga o ouro.

Ele desaparece entre as sombras, deixando Brennar sangrando, porém vivo.
A taverna volta ao barulho aos poucos, como se nada tivesse acontecido.

Brennar pressiona o ferimento, tropeçando até a porta.
Sobreviveu.
Mas nunca mais moverá o braço direito da mesma forma.

E jamais voltará à mesa do Sete Estrelas.

A Dama Desajeitada — Caminho Fácil

 Brennar ajeitou a camisa de qualquer jeito — ou piorou — e avançou rumo à moça de riso largo e passos descompassados. Ela rodopiava sozinha no canto da taverna, como se houvesse uma música que só ela ouvisse. Cada vez que alguém a olhava torto, ela sorria mais ainda. Era impossível não notar a espontaneidade… ou o caos.

Quando Brennar se aproximou, ela interrompeu o giro, meio tonta, meio feliz, os cabelos desalinhados colados à testa. Ele abriu apenas metade de um sorriso, o lado que ainda obedecia.

— Quer…? — ele começou, sem terminar.

Mas ela já segurava a mão dele.

— Quero!

Simples assim.
Sem duelo de olhares, sem nervosismo, sem cálculo. Apenas o sim imediato de quem vive no impulso. Mas nem todo impulso leva ao lugar esperado. Os dados decidem o que acontece agora.


Role um d6. O resultado determina o destino:

1 ou 2 — Noite Barulhenta, Final Desconfortável

Ela puxa Brennar para dançar — se é que aquilo pode ser chamado de dança.
Derruba uma jarra, tropeça em dois bancos e quase cai sobre um anão irritado.
Brennar tenta acompanhar, mas é como se estivesse lutando com uma tempestade de braços e pernas.

Quando a noite termina, ela desaparece tão rápido quanto surgiu, deixando-o com dor nas costas, um arranhão suspeito e a sensação de ter participado de algo… questionável.

Nada glorioso.
Definitivamente nada para se vangloriar.

3 ou 4 — Diversão Real, Consequências Bagunçadas

A moça leva Brennar para um canto da taverna onde o riso é fácil e a bebida mais ainda.
Eles conversam, contam histórias exageradas, riem alto demais.
É divertido. Caótico, mas divertido.

Só que, ao final da noite, Brennar percebe que a moça esqueceu de pagar sua própria conta… e a do último cara também. O taverneiro olha para ele como se já soubesse quem vai arcar com tudo.

A diversão custou caro — literalmente.

5 ou 6 — Surpreendente Sorte: Uma Noite Melhor do que Esperado

Ela segura a mão de Brennar com firmeza e o leva para fora, onde o ar noturno é mais fresco e o mundo menos ruidoso. A agitação diminui, e, longe da taverna, a moça parece outra pessoa — ainda espontânea, mas mais calma, mais presente.

Eles conversam sob a luz fraca dos lampiões. A risada dela, agora mais suave, faz Brennar esquecer do rum, do tédio e da solidão.

Ela encosta a cabeça no ombro dele.
É simples. É leve.
E, contra todas as expectativas, é bom.

Pode não ser amor.
Pode não durar.
Mas é um respiro honesto que Brennar não esperava encontrar.

A Dama Ajeitada — Caminho Difícil

 Brennar empurrou a cadeira para trás com cuidado — ou algo próximo disso. O chão rangeu sob suas botas pesadas enquanto ele tentava alinhar a coluna, estufar o peito e respirar apenas pelo canto dos lábios, numa tentativa desesperada de manter o cheiro de rum longe do mundo.

A jovem elegante continuava sentada com a serenidade de quem sabe exatamente onde pertence — e, infelizmente, não era no mesmo mundo que Brennar. Mesmo assim, ele seguiu, passos firmes, porém tortos. A cada metro percorrido, sua coragem parecia evaporar como bebida esquecida no sol.

Quando finalmente parou diante dela, improvisou um cumprimento que misturava formalidade, nervosismo e o maldito rum que insistia em acompanhá-lo:

— Bo-bonita noi— digo... boa noite.

Ela ergueu os olhos, surpresa, mas não imediatamente hostil. Isso já era mais do que Brennar esperava. Agora, o destino depende dos dados.


Role um d6. O número que cair define o destino:

1 ou 2 — Rejeição Fria, porém Educada

A jovem sorri — mas é aquele sorriso educado, treinado, que não aquece lugar nenhum.

— Agradeço a intenção, senhor. Mas prefiro ficar sozinha esta noite.

Ela volta os olhos para o livro sobre a mesa, dispensando-o com gentileza, mas com firmeza.
Brennar sente a rejeição bater como um balde de água gelada. O orgulho dói, mas pelo menos não foi humilhado em público.
Ele retorna ao balcão, sentindo o peso do fracasso… talvez até mais pesado que o rum.

3 ou 4 — Conversa Tensa, Interesse Moderado

Ela observa Brennar por alguns segundos, avaliando se ele representa risco… ou apenas desespero.

— Sente-se… mas mantenha a voz baixa — diz ela, puxando a cadeira com a ponta dos dedos.

Brennar se senta, tentando parecer mais sóbrio do que está. A conversa começa desajeitada, cheia de pausas, mas aos poucos ela demonstra curiosidade. Não é interesse romântico — ainda — mas ele conquistou mais que um “não”.

Se Brennar souber se comportar (ou beber menos), pode ser o início de algo raro: respeito.

5 ou 6 — Raro Golpe de Sorte: A Química Improvável

A jovem o estuda por alguns segundos… e ri. Um riso real, sincero, inesperado.

— Você parece ter tido uma noite longa — ela comenta, com brilho nos olhos.
— Você nem imagina — Brennar responde, e por algum milagre as palavras saem limpas, sem tropeços.

Ela fecha o livro e o convida a se sentar. A conversa flui com naturalidade improvável.
Ela faz perguntas. Sorri. Encosta o queixo na mão enquanto o ouve.
É como se, por um instante, Brennar tivesse conseguido atravessar o muro invisível que o separava dela.

Talvez seja o início de algo bonito… ou apenas uma noite de boas conversas.
De qualquer forma, ele ganhou mais do que esperava.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Os Chamados da Noite

 Brennar levanta a cabeça da mesa, ainda dentro da taverna. O mundo gira. A iluminação tremeluzente das velas parece dobrar e desdobrar as sombras como criaturas vivas.

A taverna está diferente.
Mais vazia.
Mais silenciosa.

Ou talvez seja só o álcool mastigando a realidade.

Ele pisca, tentando focar. A porta da frente bate com força por causa do vento da madrugada. Brennar sente um arrepio que não tem nada a ver com frio.

E então algo acontece. Três possibilidades — nenhum normal.


1. A Mulher Sensual na Porta da Taverna

A porta range…
E uma mulher entra.

Não qualquer mulher — mas a mais sedutora, estranhamente elegante e fora de lugar que Brennar já viu numa taverna de mercenários baratos.

Vestido rubro colado ao corpo, olhos dourados que brilham no escuro, e um sorriso que parece cortar a alma.

Ela caminha direto até Brennar, como se ele fosse o único naquele mundo.

Você bebe como alguém que quer esquecer. — diz ela, puxando a cadeira para sentar-se à sua frente.
— E você aparece como alguém que quer ser lembrada… — Brennar retruca, meio bêbado, meio hipnotizado.

Ela inclina a cabeça, encantadora.

Venha comigo. Agora. Há algo que você precisa ver.
E sem esperar resposta, se levanta e caminha até a porta…
esperando.

Um perfume estranho fica no ar. Algo doce, mas metálico.
Ninguém no salão parece ter notado a presença dela.


2. O Corvo Gigante na Viga do Teto

Um barulho seco ecoa acima.

Brennar olha para a viga principal da taverna… e quase derruba a caneca.

Um corvo gigantesco, do tamanho de uma criança pequena, está empoleirado no alto, olhando para ele com olhos vermelhos e luminosos.

As penas negras brilham com tons azulados conforme as velas vacilam.

O corvo abre as asas — e um vento impossível varre a sala.

Depois, ele desce, pousando no ombro de Brennar com uma força surpreendente, mas sem machucá-lo.

— Tá… tá brincando comigo… — Brennar gagueja.

A ave aproxima o bico do ouvido dele…

E diz, numa voz rouca, distorcida, quase humana:

— Acorda. Ela está em perigo.

Em seguida, tenta puxá-lo pela roupa, como se quisesse que ele o seguisse para fora.


3. O Estranho do Canto — O Terceiro Olho

Num canto da taverna, onde antes só havia mesas vazias, agora há um homem encapuzado sentado sozinho.

Ele ergue o rosto — e Brennar prende o ar:

Debaixo do capuz, ele tem três olhos.
Dois normais.
E um terceiro, no centro da testa, totalmente branco, sem íris.

Ele ergue o dedo lentamente, apontando para Brennar.

A caçada começou. — diz ele.
— Ou você se move agora…
— …ou eles alcançam a sua irmã primeiro.

O terceiro olho brilha, iluminando a mesa.

Brennar sente algo dentro de si acordar:
Medo?
Raiva?
Ou destino?

O homem some na sombra assim que ele pisca.


Escolhas do Leitor

Agora você decide o próximo movimento de Brennar:

Opção A — Seguir a Mulher Sedutora para fora da taverna

Um caminho sensual, misterioso e possivelmente ilusório.
Ela sabe algo. Ou ele é a presa dela.

Opção B — Deixar o Corvo Gigante guiar Brennar

A ave fala. E parece saber sobre Serena.
Mas seguir um corvo sobrenatural nunca termina simples.

Opção C — Ir atrás do Homem do Terceiro Olho

Talvez seja um profeta.
Talvez um inimigo.
Talvez o único que sabe a verdade.

A Manhã do Céu Rosa

 Brennar desmaiou sobre a mesa como um tronco caindo numa clareira silenciosa. A caneca tombou junto, derramando o rum que escorreu pela madeira, levou consigo o pouco de dignidade que ele ainda tentava guardar e se misturou à baba espessa de um sono turbulento.

As risadas da taverna viraram ecos distantes… depois gotas… depois nada.

Sete horas depois

Um vento frio e irregular bate no rosto de Brennar.

Ele abre um olho.
Depois o outro.
A claridade o fere como uma lâmina. Ele está… na rua.

Deitado no chão, meio sobre uma sarjeta, meio sobre pedras quentes já aquecidas pela manhã. O corpo dói inteiro — uma dor de cabeça pulsante, martelando, como se um ferreiro tivesse instalado sua oficina dentro do crânio dele.

— Ugh… por todos os... — Ele para no meio da frase.

O céu não está azul.
Não está cinza.

O céu está rosa.
Um rosa profundo, vibrante, quase líquido. As nuvens parecem manchas de tinta espalhadas por mãos gigantescas.

Brennar arregala os olhos, ainda meio bêbado, meio sonhando.

— Demônios… só pode ser coisa de demônios…

Ele se senta com esforço, esfrega os olhos. Mas o céu continua lá, rosado, estranho, impossível. A rua está silenciosa demais. Nenhum pássaro canta. Poucas pessoas estão acordadas, e as que estão… olham para o céu como quem encara o fim dos tempos.

A garganta seca, a boca amarga, e Serena desaparecida.
A ressaca e o absurdo da manhã se misturam como se fossem parte de um mesmo feitiço.

Brennar precisa decidir o que fazer — mas o mundo definitivamente mudou enquanto ele dormia.


Agora o leitor deve escolher o próximo passo de Brennar

Você pode escolher diretamente uma opção ou rolar 1d6, se quiser destino ao acaso.


Opção A — Seguir o instinto e procurar Serena imediatamente

Mesmo zonzo, ele tenta seguir pistas: pegadas, sinais na taverna, boatos entre vizinhos.
O céu rosa parece um presságio — e talvez Serena esteja envolvida nesse evento sobrenatural.

Se seguir esse caminho: Brennar encontra um rastro impossível… e percebe que Serena desapareceu de forma não natural.


Opção B — Procurar o sacerdote local

Se o céu rosa for obra demoníaca (como ele acredita no momento), talvez o velho sacerdote saiba algo.
Mas o templo pode estar vazio… ou pior, ocupado por algo que não deveria estar ali.


Opção C — Rolar 1d6 para o destino imediato

1–2 — O mau encontro

Um grupo de homens encapuzados aparece na rua, observando Brennar como se já soubessem quem ele é. Eles avançam.

3–4 — A pista inesperada

Brennar encontra um objeto que Serena deixou cair: um frasco quebrado e um símbolo queimado no chão.

5–6 — A voz do céu

Ele escuta um som vindo de cima — não como trovão, mas como um chamado, guiando-o para fora da cidade.

Partir sozinha

 Serena respira fundo, ajusta o capuz e parte sozinha pela rua lateral, deixando o caos da taverna para trás. O coração martela no peito — não por medo, mas pela certeza de que está indo direto para a toca do lobo.

Ela conhece aquela sensação: o mundo ficando silencioso demais, os passos ecoando como se alguém os contasse, o ar frio que precede a violência.
A cada esquina, Serena se convence de que tomou a decisão certa — se os inimigos a querem, que a encontrem preparada, não presa em uma multidão descontrolada.

Seguindo rastros discretos (pegadas pesadas, marcas de raspão em madeira, o cheiro de couro molhado de mercenários), ela chega a um depósito abandonado na borda da cidade. Lanternas internas se movem. Pessoas falam baixo. O clima é tenso — estão esperando alguém.

Estão esperando ela.

Serena respira fundo, apoia a mão no cabo da adaga e avança nas sombras.

Agora vem o destino.


Confronto Direto — Rolar d6

Role 1d6 para descobrir como Serena se sai no confronto sem Brennar.

1 — Péssima sorte (Fracasso total)

Serena tenta atacar pelas sombras, mas é vista segundos antes.
Uma rede metálica é disparada de cima e a prende.
É capturada.
A última coisa que vê é um homem mascarado dizendo:
— A caçada terminou. Agora respondemos as perguntas.

2 — Ferida grave (Quase morte)

Ela acerta um dos mercenários, mas outro a surpreende pelas costas com uma lâmina curva.
Serena cai, sangrando e zonza.
Consegue fugir rastejando por uma janela quebrada, mas:

  • perde equipamentos,

  • fica debilitada,

  • e terá desvantagem no próximo confronto.

3 — Risco extremo (Sobrevive por pouco)

Um combate rápido e brutal.
Serena derrota dois homens, mas leva um golpe forte no ombro.
Foge tropeçando para a rua, respirando com dificuldade.
Sobrevive — mas alguém a está seguindo.

4 — Confronto equilibrado (Vitória parcial)

Ela luta bem. Atira uma mesa, acerta pontos fracos, derruba três mercenários.
Mas um deles foge e leva informações sobre ela.
Serena vence, mas:

  • o inimigo agora tem seu nome

  • e sabe que ela está sozinha.

5 — Vitória limpa

Serena elimina todos com precisão cirúrgica.
Nenhuma testemunha.
Nenhum ferimento.
Entre os corpos, encontra uma carta cifrada dizendo:

“Se falharem, ativem o portal.”

Um novo mistério se abre.

6 — Vitória crítica (Reviravolta mágica)

Serena derrota os inimigos com facilidade — mas ao matar o último, o corpo dele brilha em luz roxa.
Um símbolo arcano se ativa no chão.
O ar vibra.
O chão abre um portal.
Ela tenta correr…
Mas é engolida pela luz.

(Se tirar 6, você cai no mesmo planeta estranho de outra linha narrativa.)

Esperar por Brennar

Serena se esconde na viela estreita, colada à parede de pedra fria. A taverna continua em alvoroço, e ela escuta, ao longe, o som de móveis sendo arrastados e o riso explosivo de Brennar — ele estava se divertindo mais do que deveria.

A noite está úmida, e a neblina baixa cobre o chão como um véu de algodão sujo. Serena respira fundo, tentando manter a calma. Cada minuto que passa parece mais longo que o anterior. Ela imagina quem poderia estar por trás daquele ataque, mas não tem tempo para concluir o pensamento.

O chão de repente vibra. Uma onda quente sobe por suas pernas, como se o mundo estivesse respirando sob seus pés.

— Brennar…? — ela murmura, olhando em volta.

Então, a viela se ilumina. Um círculo de luz branca e pulsante se abre no solo, expandindo-se como rachaduras brilhantes. Serena dá um passo atrás, mas é tarde: a luz se fecha ao redor de seus tornozelos, sobe pelas pernas, e em menos de um segundo ela é engolida.

Transporte

A sensação é de ser puxada por fios invisíveis, estraçalhada e remontada, até que de repente tudo para. Serena cai de joelhos em solo macio e úmido. A luz se dissipa.

Ela levanta o rosto… e percebe que não está mais na viela. Nem no reino que conhece.

O planeta desconhecido

O céu é de um laranja profundo, quase derretido, atravessado por três luas prateadas que parecem muito mais próximas do que deveriam. O ar tem um cheiro metálico, como chuva prestes a cair.

A vegetação é a primeira coisa que realmente chama sua atenção.

Sim — plantas podem ter cores diferentes do verde. Nesse planeta, elas são prova viva disso:

  • Há arbustos azul-cobalto que brilham levemente, como se tivessem vaga-lumes presos dentro.

  • Cipós roxos pendem de árvores retorcidas, pulsando em tons lilás.

  • O solo é coberto por folhagens largas de cor vermelho ferrugem, que se dobram quando ela pisa, como se tivessem reflexos próprios.

  • Pequenos cogumelos turquesa soltam faíscas suaves quando tocados pelo vento.

E então ela vê os animais.

Serpentes rastejantes de carapaça opalescente deslizam pelo chão, mudando de cor conforme passam entre plantas. Criaturas parecidas com salamandras, mas com quatro olhos luminosos, se arrastam em grupos, observando-a com curiosidade silenciosa.

Serena engole seco. Aquilo não é magia comum. É outro mundo.

Mais adiante, duas coisas chamam sua atenção:

1. A nave espacial

Entre rochas negras que parecem vidro quebrado, repousa um veículo enorme, metálico, meio enterrado no solo. Tem rachaduras pelo casco, luzes azuladas piscando como se lutassem para permanecer acesas. Uma porta lateral encontra-se semiaberta, soltando fumaça fina.

É impossível saber se há alguém vivo lá dentro — ou se foi por causa dela que o portal se abriu.

2. A floresta estranha

À direita, uma floresta densa se ergue. Árvores altíssimas com troncos espiralados em forma de parafuso, folhas em formatos irregulares — triangulares, onduladas, algumas até parecendo mãos. Elas emitem sons suaves, como se murmurassem entre si. Um nevoeiro lilás rasteja por entre as raízes, e a cada minuto uma luz estranha pulsa nas profundezas, como se algo gigantesco respirasse ali.

Serena sente a adrenalina percorrer seu corpo. Ela está sozinha em um planeta desconhecido. E precisa decidir rápido.


Escolha do leitor

Opção A — Ir até a nave espacial

Serena decide investigar o veículo. Talvez encontre respostas, tecnologia, ou alguém que explique porque um portal se abriu exatamente sob seus pés. Mas há risco: se a nave está danificada, qualquer coisa lá dentro pode estar instável… inclusive quem a pilotava.

Opção B — Embrenhar-se na floresta

O instinto de caçadora fala mais alto: tudo em sua experiência diz que uma nave caída é problema. A floresta, por mais estranha que pareça, pode oferecer abrigo, rotas de fuga e pistas sobre a fauna e flora locais. Mas também pode esconder predadores.


Qual caminho você quer seguir?

A — Nave espacial
ou
B — Floresta estranha

O Eterno Retorno: o que é e como essa ideia atravessou a história até hoje

 O eterno retorno é uma das ideias mais antigas da humanidade. Ela diz, de forma simples, que tudo no universo se repete: acontecimentos, eras, seres vivos, mundos inteiros. O tempo não seria uma linha que vai do passado ao futuro, mas um ciclo, como uma roda que gira sem fim.

Abaixo, segue uma linha histórica mostrando como diferentes povos e filósofos imaginaram esse retorno.


1. Povos antigos: o mundo como ciclo

Antes da filosofia escrita, muitos povos já pensavam o tempo como repetição. Isso vinha da observação da própria natureza: dia e noite, estações, colheitas, mortes e renascimentos. Assim, imaginar que “tudo volta” era natural.

1.1. Povos da Índia Antiga (hinduísmo, budismo, jainismo)

Talvez a tradição mais antiga com a ideia de repetição infinita.

  • Para o hinduísmo, o universo passa por ciclos gigantescos chamados yugas e kalpas.

  • O tempo não tem começo nem fim.

  • O cosmos nasce, se desfaz e volta a nascer para sempre.

  • As almas também reencarnam, repetindo vidas sucessivas.

Essa ideia influenciou profundamente várias filosofias orientais.


2. Antigos gregos: o eterno retorno vira filosofia

Os gregos foram os primeiros a escrever sistematicamente sobre ciclos do universo.

2.1. Heráclito (c. 500 a.C.)

Ele dizia que o mundo está em eterno fluxo — e alguns intérpretes acreditam que isso implica ciclos repetidos.

2.2. Os pitagóricos

Acreditavam que as almas voltam muitas vezes, e que grandes eventos podem se repetir.

2.3. Os estóicos (300 a.C.)

Aqui surge a versão mais “científica” do eterno retorno antigo.

Os estóicos acreditavam que:

  • o universo passa por ciclos,

  • tudo termina em um grande incêndio cósmico (ekpýrosis),

  • depois o cosmos renasce exatamente igual,

  • e tudo acontece de novo da mesma maneira.

É uma das versões mais próximas do que Nietzsche diria séculos depois.


3. Idade Média: a ideia quase desaparece

Com o avanço do Cristianismo na Europa, o tempo deixou de ser visto como circular.

Para o cristão medieval:

  • o universo tem um início (Gênesis),

  • uma trajetória única,

  • e um fim final (Juízo Final).

Essa visão linear do tempo substituiu os antigos ciclos.
O eterno retorno praticamente sumiu da filosofia europeia nessa época.


4. Renascimento e modernidade: a ideia reaparece suavemente

Entre os séculos XV e XVIII, alguns pensadores voltaram a brincar com a ideia de ciclos:

  • Giordano Bruno considerava infinitos mundos repetidos.

  • Alguns cientistas viam o universo como uma máquina eterna.

  • Filósofos iluministas imaginavam repetição em escalas naturais.

Mas nada muito sistemático — eram ideias fragmentadas.


5. O século XIX: Nietzsche e o retorno existencial

Em 1882, Nietzsche reformula completamente o eterno retorno.
Ele faz de uma ideia cosmológica um teste psicológico:

“E se um demônio te dissesse: esta vida que você vive se repetirá infinitas vezes, exatamente igual…”

Para Nietzsche, não importa se o eterno retorno é cientificamente verdadeiro.
O importante é como você reagiria a essa ideia.

  • Se isso te desespera, você não afirma a vida.

  • Se isso te fortalece, você vive de forma plena.

É o eterno retorno como critério ético, não como cosmologia.


6. Século XX e XXI: a ciência entra na discussão

Com o avanço da física, cosmólogos começaram a imaginar universos em ciclos.

Algumas teorias modernas incluem:

6.1. Universos oscilantes

Propostos desde os anos 1930 — o universo expande, depois contrai, e recomeça.

6.2. Teoria de Steinhardt e Turok (universo cíclico)

Um cosmos que nasce e renasce em colisões entre “branas”.

6.3. Roger Penrose — Cosmologia Cíclica Conforme (CCC)

Talvez a versão mais elegante atual:

  • Cada “eon” é um universo completo.

  • Após se esvaziar totalmente, o eon gera outro Big Bang.

  • O processo se repete para sempre.

Embora Penrose não diga que os universos são idênticos, a matemática sugere que num número infinito de ciclos, repetição é inevitável.

Assim, o conceito retorna, agora em roupagem científica.


7. Hoje: o eterno retorno ainda faz sentido?

Atualmente, a ideia aparece em três formas:

7.1. Como filosofia existencial (Nietzsche)

Muito discutida em cursos, livros e debates.

7.2. Como hipótese cosmológica (Penrose e outros)

Dialoga com física, entropia, expansão e limites da relatividade.

7.3. Como metáfora cultural

Usada em:

  • filmes (“Matrix”, “Interestelar”, “A Chegada”),

  • séries (“Dark”),

  • literatura e games.

Hoje, poucas pessoas realmente acreditam no eterno retorno como fato.
Mas a ideia continua forte como símbolo, como pergunta filosófica, e até como possibilidade científica.


Resumo final

A ideia do eterno retorno:

  • nasceu na observação cíclica da natureza,

  • foi desenvolvida por hindus e gregos,

  • apagada na Idade Média cristã,

  • recuperada por Nietzsche,

  • e reaparece na física moderna como hipótese de ciclos cósmicos.

É um exemplo perfeito de como uma ideia pode atravessar milênios, renascer em novas formas e continuar inspirando discussões — tanto existenciais quanto científicas.

Por que o “demônio” do eterno retorno de Nietzsche não causaria impacto hoje

 No célebre aforismo 341 de A Gaia Ciência, Nietzsche introduz a imagem de um demônio que aparece e sussurra:

“Esta vida, tal como você a vive agora e tal como a viveu, terá de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indescritivelmente pequeno e grande em sua vida há de retornar para você, tudo na mesma ordem e sequência…”

É uma passagem poderosa, que Nietzsche usa para propor um teste existencial:
se essa notícia te esmagaria ou te elevaria?
Se te destrói, diz Nietzsche, é porque você ainda não aprendeu a afirmar a vida.

Mas há um problema:
esse teste não funciona no nosso tempo.
E provavelmente nunca funcionou da forma como Nietzsche imaginava.


1. Hoje, saber do eterno retorno não mudaria a vida de quase ninguém

A proposta de Nietzsche só tem efeito moral se o indivíduo realmente acreditar que sua vida ocorrerá infinitas vezes — e se essa crença for capaz de mudar comportamento.

Mas na prática:

  • As pessoas vivem buscando prazer, estabilidade, felicidade e realização.

  • As pessoas não moldam o comportamento com base em “eternidade” ou “destino”.

  • Em nosso mundo secularizado, quase ninguém estrutura sua vida em torno de crenças metafísicas profundas.

Ou seja:

Descobrir que a vida vai se repetir infinitamente não altera o cotidiano moderno.

Porque o cotidiano moderno é guiado por:

  • objetivos imediatos,

  • bem-estar,

  • escolhas pessoais,

  • e não por julgamentos eternos.


2. A comparação com religiosos é reveladora — e mostra o limite da proposta

Nietzsche achava que o eterno retorno funcionaria como o oposto do cristianismo:
um “teste” para afirmar esta vida, não uma promessa sobre outra.

Mas veja a ironia:

  • Nem mesmo as pessoas religiosas, hoje, mudam completamente o comportamento por causa da crença no céu ou no inferno.

  • A maioria crê superficialmente, mas vive normalmente — trabalha, se diverte, erra, acerta, segue a vida.

Se nem a promessa de consequências eternas, baseada em doutrinas sagradas, muda profundamente o comportamento da maioria…

por que mudaria a ideia de repetir a vida infinitamente?

O eterno retorno só teria força sobre pessoas com uma religiosidade intensa — uma minoria hoje, e não tão comum nem no século XIX.


3. No tempo de Nietzsche, o cenário era diferente — mas não muito

Nietzsche escreveu num contexto europeu:

  • ainda fortemente cristão,

  • mas já vivendo um declínio da fé tradicional,

  • e entrando num mundo mais científico, racional e materialista.

Então sua ideia talvez tivesse mais impacto psicológico em 1880 do que teria em 2025.

Ainda assim:

  • a própria Europa da época já não vivia guiada por dogmas religiosos,

  • e Nietzsche só esperava que poucos — os “fortes”, os criadores de valores — passassem no teste.

Ou seja, mesmo no contexto dele, a ideia não era para “a maioria”.


4. O grande ponto: o eterno retorno de Nietzsche funciona como metáfora, não como força real

O teste do demônio é filosófico, não prático.

Mas Nietzsche tenta apresentá-lo como uma espécie de exame de consciência:

“Se essa ideia te esmagaria, então tua vida não vale ser vivida.”

Isso remete à dimensão moral do cristianismo (“como você vive perante Deus?”), que Nietzsche tenta substituir pela afirmação da vida (“como você vive perante você mesmo?”).

Mas na prática:

  • O demônio não muda ninguém.

  • As pessoas continuam vivendo como querem.

  • A maioria jamais reorganizaria a vida por causa de um critério abstrato, infinito e especulativo.

É o mesmo problema que se aplica aos religiosos de hoje:
há crença, mas não prática intensa.


Conclusão: o demônio de Nietzsche não sobreviveria ao mundo atual

O “demônio” do eterno retorno é uma metáfora brilhante, mas não tem força transformadora real hoje — nem para a maioria das pessoas do século XIX.

Porque:

  1. O ser humano moderno vive orientado pelo presente, não pela eternidade.

  2. Mesmo crenças fortes (céu, inferno) já não mudam comportamentos drasticamente.

  3. A vida contemporânea é prática, não metafísica.

  4. A maioria busca apenas viver bem — e isso não mudaria com a repetição eterna.

O eterno retorno, como experimento psicológico, é interessante.
Como força existencial, porém, é inócuo para quase todos nós.

Penrose, o Eterno Retorno e a Lógica Matemática de um Universo que se Repete

 A ideia do eterno retorno sempre pareceu filosofia pura: o universo repetindo a si mesmo, infinitamente, até que cada detalhe da realidade volte a acontecer. Mas nos últimos anos, a física moderna — especialmente a teoria dos ciclos cósmicos de Roger Penrose — reacendeu essa discussão com força surpreendente.

E mais: quando analisamos com cuidado, o eterno retorno deixa de ser apenas metáfora. Ele se torna uma consequência matemática de um cosmos eterno.

Sim: se o universo dura para sempre, ele inevitavelmente se repete.


O Universo Cíclico de Penrose

Roger Penrose, um dos maiores físicos vivos, propôs a Cosmologia Cíclica Conforme (CCC). Nessa visão:

  • o nosso universo não é o primeiro,

  • nem será o último,

  • mas apenas um “eon” dentro de uma sequência infinita de outros universos.

Cada eon começa com um Big Bang, evolui, expande-se e termina num estado tão rarefeito — apenas fótons, nenhuma massa — que o próprio tempo deixa de fazer sentido. Nesse ponto final, por uma transformação matemática elegante, o universo é conectado ao Big Bang do próximo eon.

É como se o fim de um universo fosse a porta de entrada para outro.

E isso se repete para sempre.


Infinitos ciclos + estados finitos = repetição obrigatória

Aqui entra o ponto mais interessante — e raramente discutido:

Se existem infinitos ciclos, e o número de estados possíveis do universo é finito, então o universo é matematicamente obrigado a se repetir.

Essa ideia deriva da chamada Recorrência de Poincaré, um resultado profundo da teoria dos sistemas dinâmicos. Em termos simples:

  • Num sistema infinito em duração,

  • mas com possibilidades limitadas,

  • certos estados retornam novamente.

Mais cedo ou mais tarde, tudo volta.

Não é filosofia: é uma consequência estatística inevitável.

Assim, mesmo que os primeiros ciclos sejam todos diferentes, eventualmente — daqui a trilhões de trilhões de eons — surge um eon idêntico ao nosso, átomo por átomo.

Sim: nós, conversando agora, já “acontecemos” e “aconteceremos” de novo em um eon remoto.


Contrariando Einstein: o tempo não é absoluto

Einstein via o tempo como algo inseparável do espaço: ele nasce com o universo e morre com ele. Não existe “antes do Big Bang”.

Mas Penrose, ao mostrar que o fim de um eon pode se transformar matematicamente no início do próximo, aponta para uma estrutura maior onde:

  • o tempo aparece e desaparece em cada ciclo,

  • mas a totalidade dos eons existe numa espécie de panorama eterno.

É uma visão que ultrapassa a relatividade sem contradizê-la diretamente — apenas revela que a relatividade talvez descreva apenas um capítulo, não o livro inteiro.


E de onde surgiu essa ideia de o tempo nascer com o universo?

Historicamente, essa hipótese veio de três frentes científicas:

  1. Relatividade Geral: o tempo é parte da geometria do universo.

  2. Big Bang: as equações colapsam no início, sugerindo um “começo do tempo”.

  3. Termodinâmica: a flecha do tempo depende da entropia; sem processos irreversíveis, não há tempo.

Mas Penrose argumenta que isso é verdade somente dentro de um eon, não fora dele. No final do ciclo, quando tudo vira luz, a escala temporal perde sentido — e outra surge logo adiante.


Eterno retorno: metáfora ou inevitabilidade?

Unindo todos esses pontos, surge uma conclusão ousada:

Se os eons de Penrose são realmente infinitos, o eterno retorno deixa de ser mito e se torna consequência matemática:
o universo não apenas se recicla, ele eventualmente se repete.

Nietzsche imaginou isso como um desafio existencial.
Penrose, sem querer, ofereceu a estrutura física para torná-lo plausível.
A matemática completa o círculo dizendo: isso não só pode acontecer —
isso vai acontecer, se o cosmos for eterno.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O Tempo Além do Universo e a Lógica do Eterno Retorno

 O que existia antes do Universo? O que existirá depois dele?

A cosmologia moderna tenta responder essas perguntas com fórmulas, telescópios e simulações. A filosofia tenta respondê-las com raciocínio lógico, reflexão e coragem intelectual. Entre essas duas abordagens, existe um ponto de encontro que raramente é discutido: a ideia de que o tempo pode não depender do universo.

E é justamente aí que a tese do eterno retorno, tão cara a Nietzsche, ganha força.


O problema do “agora” em um oceano de tempo

Se aceitarmos que o tempo é infinito — ou mesmo apenas extremamente vasto — surge uma questão simples:

Por que estamos vivendo exatamente agora?

Por que não há dez trilhões de anos no passado?
Por que não daqui a um googol de anos no futuro?

A probabilidade de existir exatamente neste instante específico, se o tempo for uma linha imensa ou infinita, é tão pequena que se torna praticamente zero. Como estar no segundo certo de um cronômetro com 10¹⁰⁰ segundos — as chances são desprezíveis.

E se algo é tão improvável que beira o impossível, talvez a explicação esteja errada. A solução lógica pode ser outra:

👉 Este instante não é único.
Ele retorna.
Ele já retornou.
Ele retornará.

É aí que entra o eterno retorno.


A física oficial diz que o tempo nasce com o universo… mas só até a página dois

A Relatividade Geral, que descreve a gravidade e o espaço-tempo, afirma que:

  • o tempo e o espaço surgiram no Big Bang;

  • sem universo, não haveria tempo.

Essa é a ideia padrão ensinada nos livros.
Mas há um grande problema: as equações explodem antes de chegar ao momento zero. A singularidade do Big Bang não é um evento explicável — é uma declaração de ignorância da própria física.

Ou seja:
A física não consegue provar que o tempo nasceu no Big Bang.
É apenas uma hipótese, não uma evidência.

E quando avançamos para teorias mais modernas, o cenário muda completamente.


A física moderna começa a tratar o tempo como algo maior que o universo

Várias teorias contemporâneas — ainda em construção — sugerem que o universo pode nascer e morrer dentro de um tempo maior, mais fundamental.

1. Cosmologia cíclica (Penrose e outros)

Nessa visão, universos surgem, expandem, desaparecem… e dão lugar a novos universos.
O tempo precisa continuar existindo entre um ciclo e outro.

2. Modelos quânticos de surgimento espontâneo

O vácuo quântico, mesmo sem matéria, possui energia e flutuações.
Ele pode gerar universos inteiros.

Se universos brotam do vácuo, o tempo está fora deles.

3. Multiverso inflacionário

Nos modelos de inflação eterna, há um “metatempo” no qual bolhas de universos se formam e se desfazem.

Em todos esses cenários:

👉 O tempo não é criado pelo universo.
O universo é criado dentro do tempo.

E quando esse é o caso, o eterno retorno deixa de ser uma especulação poética e se torna uma consequência lógica.


Se o tempo é maior que o universo, o eterno retorno é inevitável

Se existe um metatempo que não depende do nosso universo, então:

  • não há início absoluto;

  • não há fim absoluto;

  • há apenas transformações cíclicas;

  • há espaço temporal infinito para repetições.

Dado tempo suficiente, qualquer estado possível do universo — inclusive esta vida, este momento, este “eu” — retorna, porque o número de configurações possíveis é finito, mas o tempo é infinito.

É o mesmo princípio matemático que garante que, se você digitar letras aleatórias para sempre, acabará escrevendo Shakespeare repetidas vezes.


A morte do universo não é o fim — é o intervalo

Os possíveis destinos cósmicos não contradizem o eterno retorno.
Eles o fortalecem.

Big Freeze:

O universo morre, o tempo continua, e outro ciclo pode emergir.

Big Rip:

O espaço-tempo se rasga, mas o metatempo pode permanecer, permitindo novo surgimento.

Big Crunch:

O universo colapsa e renasce — o cenário mais naturalmente cíclico.

Em todos os casos, o “fim” do universo é um evento dentro do tempo, não o fim do tempo.


Nietzsche estava à frente da física

Nietzsche não tinha telescópios, equações de campo ou modelos inflacionários.
Mas tinha algo que muitos cientistas perdem: sensibilidade lógica ao absurdo.

Ele percebeu que:

  • se o tempo for infinito,

  • e se as configurações da matéria forem limitadas,

  • então tudo retorna.

A cosmologia moderna ainda não bateu o martelo, mas ela está cada vez mais próxima — talvez sem admitir — de reconhecer que o tempo não nasceu no Big Bang.

E se o tempo é maior que o universo, então a tese do eterno retorno deixa de ser filosofia e se torna uma possibilidade física coerente.


**Conclusão:

Se o universo é finito, mas o tempo é infinito, nós voltaremos.**

O eterno retorno não é misticismo.
É a consequência natural de uma ideia simples:
o agora é tão improvável que só faz sentido se não for único.

Enquanto a ciência avança, a tese de Nietzsche parece menos uma provocação e mais uma visão antecipada do que a física ainda vai compreender: o universo não é um evento único, mas um capítulo recorrente na história infinita do tempo.

O eterno retorno nos cenários cosmológicos

 Curiosamente, os grandes cenários do destino do Universo — Big Freeze, Big Rip, Big Crunch — longe de refutarem o eterno retorno, só fazem sentido se considerados dentro de um horizonte de repetição.


1. Se o Universo acabar no Big Freeze (a morte térmica)

Esse é o cenário mais aceito pela cosmologia atual: o Universo se expande para sempre até tornar-se frio, escuro e morto. Acontece em 10¹⁰⁰ anos, mas “acabar” não resolve nada.
Se o tempo continua, o Universo morto permanece sendo um estado estático eterno. E aí surge o paradoxo:

Por que estamos na fase viva e não na fase morta, que é infinitamente mais longa?

A resposta lógica é simples:
Se existe um ciclo, esta fase viva não é única. Já aconteceu e acontecerá de novo, infinitas vezes. O Big Freeze não é o fim — é apenas um intervalo entre repetições. A morte térmica não é a conclusão do tempo, mas o retorno à possibilidade de reinício.


2. Se houver um Big Rip (o universo se rasga)

No Big Rip, a energia escura cresce até desfazer galáxias, átomos, o espaço-tempo. Mas destruir o espaço-tempo não é o mesmo que destruir o tempo em si. O tempo pode permanecer como um campo vazio, sem eventos — até que um novo Big Bang surja numa região “liberada”.

O Big Rip, então, não seria o fim, mas apenas uma limpeza cósmica, devolvendo o Universo ao ponto inicial.
Se isso já aconteceu antes — e nada impede que tenha — então já existimos em outros ciclos rasgados, em outras versões de realidade, reemergindo do vácuo depois do colapso do contínuo.


3. Se houver um Big Crunch (o colapso total)

Aqui o eterno retorno se torna quase inevitável.
No Big Crunch, tudo volta para um único ponto — praticamente um novo Big Bang preparando-se para acontecer. É literalmente um ciclo físico, uma cosmogonia circular. A física séria já considera isso uma possibilidade matemática sólida.

Se o Universo colapsa de volta ao mesmo estado inicial de energia e densidade, não há razão para que uma nova expansão não reproduza — com variações mínimas ou exatas — o mesmo conjunto de eventos.
Somos, então, parte de um cosmo pulsante, que exala e inspira eternamente.

Nietzsche ficaria satisfeito: aqui o eterno retorno não é filosofia, é mecânica.


E o que havia antes do Universo? E o que haverá depois?

A cosmologia não consegue escapar dessa pergunta:
se houve Big Bang, houve antes.
E se haverá um fim, haverá depois.

Mesmo que não exista matéria, energia ou espaço, o tempo — enquanto possibilidade de mudança — precisa existir para que a transição entre estados seja possível. Sem tempo, não haveria “antes”, não haveria “depois”, não haveria Big Bang.

Assim, o tempo não nasce com o Universo: o Universo é que é um episódio dentro do tempo.

E se o tempo é maior que o Universo, então todos os instantes possíveis — inclusive este que você vive agora — tornam-se estatisticamente insignificantes. Para que “agora” exista, ele precisa ser um instante recorrente num ciclo temporal infinito.


Conclusão: O eterno retorno é a resposta natural

A tese do eterno retorno não é misticismo, não é religião, não é otimismo ingênuo. É uma solução racional para três problemas profundos:

  1. A improbabilidade absurda do agora.

  2. A existência de tempo antes e depois do cosmos.

  3. Os cenários físicos reais do fim do Universo.

Se o Universo fosse único, se houvesse apenas uma chance, se o agora fosse um ponto aleatório num oceano infinito de tempo… simplesmente não estaríamos aqui.

Ou o cosmos retorna eternamente, ou aceitamos que estamos vivendo um instante cuja probabilidade matemática é indistinguível de zero.

Nietzsche não acreditava no eterno retorno por superstição.
Ele acreditava por lucidez.

E, olhando para a cosmologia moderna, talvez ele estivesse alguns séculos à frente.