Zé Chico se aconchegou naquela festa junina que mais parecia um velório disfarçado de arraial. O povo mastigava cachorros-quentes e pedaços de bolo com a alegria de quem cumpre um dever. Uns dançavam uma quadrilha tão automática que pareciam bonecos de corda — e a tal da laranja mecânica, símbolo da brincadeira local, nem sequer existia.
Mas Chico era homem de lenha e faísca. Avistou um sujeito — ou melhor, um paspalho de dar dó — e, sem pensar duas vezes, despejou um copo d’água bem no meio das calças do infeliz, como quem rega terra seca. O pobre coitado ficou com a frente toda encharcada. Antes que o rastro da maldade apontasse pra ele, Zé acusou o careca que estava logo à frente. E como o careca estava, de fato, na frente, havia boas chances de parecer culpado.
O paspalho se virou indignado pro careca. O careca, por sua vez, se voltou furioso pra Zé Chico. E ali se formou a confusão: dedo no rosto, voz alterada e xingamento voando como milho estourando na panela.
— Careca mentiroso! — gritava Zé, com ar de indignado profissional.
— Moleque safado! — berrava Ronaldo, o careca, correndo atrás dele com o punho cerrado.
Enquanto isso, o paspalho, todo molhado, parecia cada vez mais convencido de que havia se urinado e já ameaçava partir pra cima dos dois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário