sábado, 21 de junho de 2025

Zé Totico

 

CENA 1 — O CASAMENTO DO SEU CHICO

Hoje é dia de festa na vila. Seu Chico Padeiro, velho conhecido, homem trabalhador e meio turrão, vai se casar com a jovem Rita — moça bonita, mas metida que só ela. A vila inteira está reunida na igrejinha. Tem música, gente bem vestida, e claro… muita fofoca.

Você, Zé Totico, está ali encostado num poste, comendo um pastel, observando tudo. Já percebeu que:

  • A ex do Seu Chico está sentada lá no fundo, remoendo ódio.

  • O padre parece ter tomado umas antes da missa.

  • E o primo da noiva, que veio da capital, está tirando onda com todo mundo da vila, dizendo que "aqui é tudo atraso de vida".

A confusão está pronta pra acontecer. Basta um empurrãozinho.

CENA 2 — O COMEÇO DO RUMOR

Você se aproxima de Dona Carminha, velha fofoqueira oficial da vila, que já disse uma vez que tinha "dom pra saber das coisas". Sabe que se plantar ali, a notícia se espalha mais rápido que fogo em palha seca.

Você chega perto, disfarçado de curioso:

— Dona Carminha... a senhora reparou que a Rita tá com um colar novo? Dizem que foi o primo da capital que deu... e não foi só colar não...

Ela arregala os olhos como uma coruja vendo fantasma.

— Hein? Como assim, meu filho? Mas o casamento é HOJE!

Você não responde. Só levanta as sobrancelhas, dá de ombros e diz:

— Só reparei, só reparei...

Dona Carminha já levanta e vai cochichar com a comadre Lurdes. E Lurdes, que tem voz de taquara rachada, cochicha gritando, como sempre.

— VOCÊ TÁ ME DIZENDO QUE A RITA TÁ COM O PRIMO DA CAPITAL?

Todo mundo em volta já vira o rosto.

A fofoca já tá nos bancos da frente da igreja, e o padre começa a gaguejar ao ver a Rita sussurrando com o primo.

Seu Chico, coitado, já olha torto pra trás enquanto o sanfoneiro engasga no "Ave Maria".

Você, Zé Totico, se afasta devagar, mastigando o último pedaço do pastel, fingindo que nem sabe o que está acontecendo.

Mas aí...

— Ô Zé Totico... — diz uma voz por trás de você.
É Dona Zuleide, velha amiga da sua mãe. — Você viu o que tá acontecendo? Será que é verdade mesmo?

Ela te encara com aquele olhar de quem sonda alma.

Ahhh... Zé Totico, você é um artista.

Você arregala os olhos como se tivesse ouvido a história agora.

— Oxente, Dona Zuleide! Tá me dizendo isso? A Rita?! Com o primo da capital? Num me diga... Mas sabe que agora que a senhora falou, eu reparei sim que ele passou a mão nas costas dela quando chegou... e ela riu meio sem graça... coisa esquisita...

Você abaixa o tom da voz, olha pros lados, e completa:

— Mas é melhor não espalhar isso, viu? Vai que é só impressão...

Claro que é tarde demais. Dona Zuleide já se virou de lado, puxou o braço do irmão do noivo, e cochichou no ouvido dele com a delicadeza de um trovão em céu limpo.

CENA 3 — O CLIMA PESA

Lá na frente, o padre já ergue o braço pra abençoar o casal. Mas Seu Chico tá tenso. O primo da capital agora está encostado na parede, de braços cruzados, e Rita olha em volta, desconfiada — parece sentir que tem algo errado no ar.

Você vê:

  • O sanfoneiro dá uma nota errada.

  • A ex do Chico sorri pela primeira vez no dia.

  • E o padre, já com o cálice na mão, deixa escapar:

— "Aceitas esta mulher como sua legítima esposa, mesmo que ela tenha um passado… ééé... glorioso?"

O silêncio pesa.

De repente, Seu Chico olha direto pro primo da capital, depois pra Rita. O clima esquenta. Ele larga o buquê no chão.

— Rita... você tem algo pra me dizer?

A plateia faz um "oooooooh".

Zé Totico, você não joga água no fogo... você joga óleo de dendê, e ainda sopra pra espalhar bem.

Você se aproxima do compadre Genival, que é meio surdo, mas adora gritar quando acha que entendeu alguma coisa. E diz baixinho, com cara de quem não queria dizer:

— Rapaz... ouvi dizer que o primo da capital nem é primo de verdade. Dizem que ele já foi visto com Rita antes mesmo dela conhecer o Chico. Vai saber...

Compadre Genival franze a testa, leva a mão ao queixo, e pergunta alto — alto demais:

— ENTÃO O PRIMO NÃO É PRIMO?

Silêncio. A igreja para. As velhas se benzem. O padre derrama o vinho.

Seu Chico dá um passo pra trás. A Rita fecha a cara. O primo da capital arqueia a sobrancelha como se não entendesse, mas já começa a coçar o colarinho.

— Rita, quem é esse homem afinal?, diz Seu Chico.

Ela hesita. O primo tenta intervir:

— Calma aí, gente. Isso tá cheirando a fofoca…

E então, como nas grandes comédias de antigamente, um empurra o outro, o padre grita "Não na igreja!", e começa uma briga generalizada, com tia jogando flor no primo, sanfoneiro se protegendo com o acordeão, e a ex do Chico filmando tudo com um celular velho.

CENA FINAL — O MESTRE DESAPARECE

Você, Zé Totico, já está do lado de fora, sentado no parapeito da venda do Zeca, com outro pastel na mão e rindo com a alma.

— E ninguém nunca vai saber quem foi que começou...

PARABÉNS, ZÉ TOTICO!

Você criou um verdadeiro causo de vila, digno de ser contado por décadas nas festas juninas e jogado na roda junto com os clássicos do interior.

E melhor: ninguém nem sonha que foi você.

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